Jeoseung Saja - O ceifador da Morte - Neófita: Cris.

 


Quem é o Jeoseung Saja?
O Jeoseung Saja é a versão coreana da Morte ou Ceifador, um mensageiro do submundo na mitologia e folclore coreanos. Sua função principal é guiar as almas dos falecidos para o pós-vida, onde são julgadas pelo Rei Yeomna.
Tradicionalmente, eles são retratados com hanbok e chapéu Gat pretos, embora em representações modernas possam usar casacos longos e chapéus de aba larga, com pele pálida e olhos fundos. São vistos como burocratas rigorosos e implacáveis em sua tarefa.
Culturalmente, o Jeoseung Saja é uma figura temida, pois sua aparição marca a morte, mas é tratado com respeito em rituais funerários. Atualmente, ele se tornou um ícone popular na cultura pop coreana, aparecendo em diversos dramas e filmes, como o personagem de Lee Dong-wook em "Goblin".

Origem mitológica do Jeoseung Saja
A figura do Jeoseung Saja na mitologia coreana não tem uma origem única, mas sim evoluiu de um complexo sistema de crenças sobre a morte e o submundo, influenciado por diversas tradições.
As principais influências são:
Xamanismo Coreano (Muism): Anteriormente dominante, o xamanismo com sua comunicação com o mundo espiritual e a ideia de mensageiros para guiar almas, serviu de base para a personificação do Jeoseung Saja.
* _ Budismo:_ Teve um impacto significativo na formação do conceito de submundo, reencarnação e Karma. Com o budismo, o Rei Yeomna (Yama) e o julgamento das almas se tornaram proeminentes, e o Jeoseung Saja assumiu o papel de burocrata do submundo, executor das ordens de Yeomna.
Confucionismo: Contribuiu para a ideia de organização e estrutura social no submundo, com os Jeoseung Saja agindo como oficiais do governo, cumprindo estritamente seus deveres. A vestimenta tradicional do Jeoseung Saja, semelhante às roupas de antigos agentes governamentais, reforça essa influência.

O Papel do Jeoseung Saja
Em essência, o Jeoseung Saja não é uma divindade a ser adorada, mas sim uma figura psicopompo – um guia de almas. Sua origem está na necessidade cultural e espiritual de entender e processar o fenômeno da morte. Ele representa a inevitabilidade da morte e a transição para o próximo estágio da existência.
A figura do Jeoseung Saja é um reflexo das crenças coreanas de que o mundo dos vivos e o mundo dos mortos estão interligados, e que há uma ordem e um propósito para a jornada da alma após a vida.

Diferenças entre Jeoseung Saja, Gwisin (fantasmas) e deuses da morte
É super comum confundir essas figuras, já que todas elas estão relacionadas à morte e ao pós-vida! No entanto, Jeoseung Saja, Gwisin (fantasmas) e Deuses da Morte têm papéis e naturezas bem distintas na mitologia coreana e em outras mitologias.

Jeoseung Saja (저승사자): Os Mensageiros da Morte Coreanos
Quem são: São os ceifadores ou mensageiros do submundo na mitologia coreana. Pense neles como funcionários públicos do reino dos mortos. Eles não causam a morte, mas são os responsáveis por escoltar as almas dos falecidos do mundo dos vivos para o submundo, onde serão julgadas pelo Rei Yeomna.
Função: Sua principal função é a coleta e guia de almas. Eles são vistos como seres imparciais e implacáveis, seguindo uma "lista" de pessoas cujo tempo de vida chegou ao fim.
Natureza: Não são deuses, nem fantasmas. São uma classe de seres espirituais que servem ao Rei do Submundo. Embora possam parecer humanos, não são.
Aparência: Tradicionalmente usam hanbok preto e um chapéu tradicional (Gat). Em representações modernas, podem ter uma aparência mais contemporânea, mas sempre com um ar sombrio e misterioso.

Gwisin (귀신): Os Fantasmas Coreanos
Quem são: São os fantasmas propriamente ditos. São as almas de pessoas falecidas que, por algum motivo, não conseguiram fazer a transição para o submundo ou para o ciclo de reencarnação.
Função: Diferente do Jeoseung Saja, os Gwisin geralmente estão presos ao mundo dos vivos devido a sentimentos não resolvidos, como rancor, raiva, tristeza profunda, ou uma morte injusta e repentina. Eles buscam vingança, consolo ou a resolução de seus problemas terrenos.
Natureza: São as almas de indivíduos que já viveram e morreram. Podem ser benevolentes, mas são frequentemente retratados como malévolos ou sofredores.
Aparência: Variam, mas a imagem clássica é a de uma mulher com longos cabelos pretos e um hanbok branco (símbolo de luto), como a famosa Cheonyeo Gwisin (fantasma de uma virgem).

Deuses da Morte (em Mitologias Diversas)
Quem são: São divindades que governam ou personificam a morte, o submundo ou aspectos do fim da vida. Eles têm poder sobre a morte, podendo até mesmo decidir quem vive e quem morre em algumas mitologias.
Função: Suas funções variam muito de uma mitologia para outra:
o Governar o submundo: Ex: Hades (Grécia), Plutão (Roma), Osíris (Egito), Rei Yeomna (Budismo/Coreia).
o Personificar a morte: Ex: Thanatos (Grécia), Mors (Roma), o próprio Rei Yeomna (que é o governante e a personificação de um aspecto da morte na mitologia coreana/budista).
o Guiar as almas: Alguns podem ter mensageiros (como o Jeoseung Saja para o Rei Yeomna), mas eles próprios são as figuras de maior poder no domínio da morte.
o Julgar os mortos: Ex: Osíris, Rei Yeomna.
Natureza: São divindades, seres com poder divino e frequentemente parte de um panteão maior de deuses. Eles têm autoridade e influência significativas sobre a vida e a morte.
Exemplos:
o Hades (Mitologia Grega): Deus do submundo e dos mortos.
o Anúbis (Mitologia Egípcia): Deus da mumificação e guia dos mortos.
o Hel (Mitologia Nórdica): Deusa e governante do reino dos mortos.
o Rei Yeomna (Mitologia Coreana/Budista): O principal deus do submundo que julga as almas. O Jeoseung Saja serve a ele.
 
Representações em arte, drama (como em Hotel Del Luna) e literatura
O Jeoseung Saja, como uma figura icônica da mitologia coreana, tem sido amplamente representado em diversas formas de arte, drama e literatura, adaptando-se aos tempos e às narrativas.
Em Arte Tradicional
Tradicionalmente, a representação do Jeoseung Saja é bastante sombria e austera, refletindo seu papel como mensageiro da morte:
* _ Vestimentas:_ Geralmente são retratados usando um hanbok preto (roupa tradicional coreana) e um gat (chapéu tradicional coreano de abas largas), que era a vestimenta de oficiais do governo durante a Dinastia Joseon. Isso reforça a ideia de que eles são burocratas do submundo, cumprindo ordens.
Feições: Podem ter pele pálida, olhos encovados e uma expressão solene e impiedosa, transmitindo a inevitabilidade de sua chegada.
Objetos: Às vezes carregam um livro ou pergaminho (onde estariam os nomes dos que vão morrer) e uma arma ou bastão para guiar as almas.
Em Drama (K-Dramas)
O Jeoseung Saja em K-Dramas: De Ceifador Sombrio a Ícone Popular
K-dramas popularizaram o Jeoseung Saja globalmente, apresentando-o com interpretações mais humanizadas e carismáticas, sem perder sua essência de guia de almas.
Em " Goblin ", o Ceifador (Lee Dong-wook) é um ser melancólico e elegante que perdeu suas memórias, atuando como guia de almas e interagindo complexamente com humanos. Ele usa um terno preto moderno e um chapéu que o torna invisível.
" Hotel Del Luna " retrata o Jeoseung Saja (Kang Hong-seok) como um funcionário burocrático de um hotel para almas, focado em escoltá-las. Sua postura é séria, mas com toques de humanidade.
" Black " explora um Jeoseung Saja (Song Seung-heon) que possui um corpo humano e se envolve em mistérios sombrios enquanto busca um parceiro fugitivo, aprofundando as regras dos ceifadores.
Nos filmes " Along with the Gods ", um trio de Jeoseung Saja (Ha Jung-woo, Joo Ji-hoon e Kim Hyang-gi) guia almas pelos julgamentos do submundo, sendo retratados como seres poderosos com personalidades distintas e visuais que misturam o tradicional e o moderno.
Em Literatura
Na literatura coreana, tanto em obras folclóricas quanto contemporâneas, o Jeoseung Saja aparece como uma figura que:
Folclore e Contos Tradicionais: Em contos populares, o Jeoseung Saja é frequentemente uma figura temida, cuja chegada significa o fim da vida. Há histórias que narram tentativas de enganar o Jeoseung Saja, como a lenda do General Sineui, que tentou evitar a morte usando laranjas e um pino de prata, mas falhou, reforçando a ideia de que a morte é inevitável.
Literatura Moderna e Webtoons: Em obras contemporâneas, o Jeoseung Saja é frequentemente reinterpretado para explorar temas como a vida após a morte, redenção, destino e a natureza da existência. Eles podem ser personagens principais ou coadjuvantes, com histórias de fundo complexas e dilemas morais. Webtoons e romances de fantasia utilizam a figura para criar narrativas ricas em elementos sobrenaturais e emocionais.
Em todas essas representações, o Jeoseung Saja permanece como um símbolo poderoso da transição entre a vida e a morte, adaptando-se e evoluindo com as sensibilidades culturais e artísticas da Coreia.

Conclusão:
O Jeoseung Saja é a personificação coreana da Morte, um mensageiro do submundo cuja função é guiar as almas ao Rei Yeomna para julgamento. Sua figura multifacetada é resultado da fusão do xamanismo (Muism), que estabeleceu a comunicação espiritual, do budismo, que introduziu o submundo e o conceito de karma, e do confucionismo, que trouxe a ideia de ordem burocrática.
Distinto de fantasmas (Gwisin) e deuses da morte, o Jeoseung Saja atua como um psicopompo imparcial, garantindo a transição ordenada da alma. Tradicionalmente retratado de forma sombria, ele se modernizou em K-dramas e na literatura, ganhando representações mais humanizadas e carismáticas, mas mantendo seu papel central. Em todas as suas formas, o Jeoseung Saja simboliza a transição inevitável e a justiça no complexo universo espiritual coreano.


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