Tsukuyomi Deus da Lua - Neófita: Cris.


Tsukuyomi-no-Mikoto é uma das divindades mais enigmáticas e antigas do panteão xintoísta japonês , reverenciado como o deus da lua e da noite . Embora sua presença nos mitos seja mais discreta em comparação a outras divindades como Amaterasu ou Susanoo , sua figura carrega profundos significados espirituais ligados ao tempo, à escuridão e à ordem celeste. Irmão da deusa do sol, Amaterasu , e do deus das tempestades, Susanoo , Tsukuyomi representa o equilíbrio noturno no ciclo cósmico. Seu papel nos mitos, marcado por episódios como o assassinato da deusa Ukemochi e a consequente separação do sol e da lua, revela um deus associado tanto à contemplação quanto ao rigor, cujas ações moldaram a dinâmica entre luz e sombra no imaginário espiritual japonês.                                                                            Quem é Tsukuyomi no Mikoto?
Tsukuyomi-no-Mikoto (月読尊) é o deus masculino da lua e da noite na mitologia xintoísta, frequentemente chamado apenas de Tsukuyomi . Segundo os registros clássicos, ele é filho dos deuses criadores Izanagi e, em algumas versões do Nihon Shoki , também de Izanami . Seu nascimento ocorreu durante o ritual de purificação de Izanagi após sua fuga do submundo ( Yomi ), emergindo especificamente de seu olho direito. Em outras versões, diz-se que Tsukuyomi nasceu de um espelho de cobre branco que Izanagi segurava, reforçando sua associação com a luz refletida da lua e com a pureza ritual. O nascimento de Tsukuyomi-no-Mikoto está ligado ao ritual de purificação de Izanagi , o deus criador, após sua fuga do submundo ( Yomi ), onde tentou resgatar sua esposa, Izanami . Durante esse rito sagrado de misogi , Tsukuyomi surgiu do olho direito de Izanagi , simbolizando sua conexão com a noite e a luz refletida da lua. Em algumas versões registradas no Nihon Shoki , há uma variação em que Tsukuyomi teria nascido de um espelho de cobre branco que Izanagi segurava, reforçando ainda mais a associação do deus com a luz lunar, a introspecção e o mundo espiritual. Seu nascimento, assim como o de seus irmãos Amaterasu (do olho esquerdo) e Susanoo (do nariz), marca a origem das principais forças que regem o céu, o mar e a noite na cosmologia xintoísta. Os três fazem parte dos Mihashira-no-Uzu-no-Miko , os três filhos célebres de Izanagi que governariam os céus.                     O conflito com Ukemochi
Após estabelecer a ordem celeste, a deusa solar Amaterasu-ōmikami , regente do céu sagrado de Takamagahara, decide enviar um emissário à terra para representar seu poder e criar laços harmoniosos com as divindades do plano terreno. Para essa missão diplomática, ela escolhe seu irmão, o deus lunar Tsukuyomi-no-Mikoto . Ao descer ao mundo, Tsukuyomi visita Ukemochi-no-Kami (também chamada Ōgetsu-hime ), a deusa da comida, profundamente associada à fertilidade e à abundância. Em honra ao visitante divino, Ukemochi oferece um banquete sagrado, mas o prepara de forma não convencional: alimentos como arroz, peixes e carnes brotam diretamente de sua boca, nariz e reto — um ato ritualístico que expressa a fertilidade natural do corpo divino, comum nas crenças arcaicas do xintoísmo. No entanto, Tsukuyomi , tomado por horror diante do que considera um gesto impuro e profano, vê o ritual como uma grave ofensa à pureza sagrada. Dominado por um senso rígido de justiça, ele mata Ukemochi com sua espada, selando um rompimento trágico entre a lua e a terra — e, posteriormente, entre a lua e o sol.                                                                                                                                                         A Fúria de Amaterasu e a Separação do Sol e da Lua
No mito xintoísta da separação cósmica, Amaterasu , a deusa do sol, envia seu irmão Tsukuyomi-no-Mikoto como emissário celestial para um banquete oferecido por Ukemochi , a deusa da comida. No entanto, o ritual preparado por Ukemochi , em que ela produz arroz, peixes e carnes diretamente de seus orifícios corporais, choca profundamente Tsukuyomi , que interpreta o ato como uma violação da pureza sagrada. Enfurecido, ele mata Ukemochi com sua espada, o que provoca a ira de Amaterasu . 
Ao retornar ao céu, Tsukuyomi relata o ocorrido à irmã. Mas Amaterasu , ao ouvir sobre o assassinato, fica furiosa:
“Jamais verei esse deus novamente!”
Ela se afasta de Tsukuyomi para sempre, criando a separação eterna entre o dia e a noite. Esse evento explica mitologicamente por que o Sol e a Lua revezam seus turnos no céu, nunca sendo vistos ao mesmo tempo.
Indignada com a violência do irmão, a deusa declara que nunca mais o verá, selando a separação definitiva entre Sol e Lua. Desde então, os dois passam a habitar partes opostas do céu, jamais aparecendo juntos, o que, segundo o mito, explica a alternância entre o dia e a noite. A lenda reforça a ideia de que a Lua persegue o Sol eternamente, mas nunca o alcança — mesmo durante eclipses, quando parecem se aproximar, o encontro é apenas ilusório e passageiro.                                                                                                                                     A morte que gera vida
Após a morte de Ukemochi , seu corpo gera novos alimentos:
Da sua cabeça nasce o arroz.
Dos olhos vem o painço.
Das orelhas, o trigo.
Do nariz, o feijão.
Dos genitais, a soja.
Das nádegas, os tubérculos.
Esse momento é fundamental para a cosmogonia agrícola do Japão, mostrando que: Da morte de uma deidade da natureza surgem os grãos e a nutrição para a humanidade.                                                                                                                          Tsukuyomi (月読) , cujo nome pode ser interpretado como “leitor da lua” — de “tsuki ” (lua) e “yomi” (ler, contar) — ou ainda como “observador da noite enluarada”, é uma divindade japonesa cercada de simbolismo e complexidade. Também chamado Tsukuyomi Otoko (月讀壮士) , “homem que lê a lua”, ele representa a ordem, a elegância e o respeito às regras, mesmo que isso implique romper convenções, como demonstrado no assassinato da deusa Ukemochi. Sereno e cortês, mas capaz de atos de violência, sua natureza paradoxal espelha as fases da lua, com sua constante transição entre luz e sombra. Associado à agricultura, aos ciclos lunares, ao tempo e à medição, Tsukuyomi é cultuado em rituais que envolvem colheitas e meditações à luz da lua. Mais do que um simples deus lunar, ele encarna as tensões entre vida e morte, luz e escuridão, ordem e caos — refletindo a busca eterna por equilíbrio nas forças que moldam o mundo, um tema que ecoa não apenas na mitologia japonesa, mas em diversas culturas ao redor do globo. Embora Tsukuyomi não receba a mesma devoção popular que Amaterasu ou Susanoo , ele é reverenciado em diversos santuários espalhados pelo Japão. Um dos mais importantes é o Gassan Shrine , localizado no Monte Gassan , em Yamagata , onde Tsukuyomi no Mikoto é o principal kami e cuja fundação remonta ao ano 593. Outro destaque é o Tsukuyomi Shrine , em Kyoto , tradicionalmente associado ao clã Iki e mencionado nos registros do Nihon Shoki durante o reinado do imperador Kenzo . Além disso, há referências à sua presença em outros locais sagrados, como o Matsunoo Taisha , também em Kyoto , e santuários na região de Sakurajima , em Kagoshima . Mesmo com menor proeminência, Tsukuyomi continua sendo celebrado por meio de cultos mensais e festivais dedicados à lua, que mantêm viva a conexão espiritual com esse enigmático deus lunar.                                                                                                                    Tsukuyomi no Mikoto na cultura popular
Baseado na divindade xintoísta Tsukuyomi-no-Mikoto , o nome " Tsukuyomi " carrega consigo os significados da lua e do tempo lunar — elementos que frequentemente se manifestam em obras de ficção como símbolos de manipulação temporal, ilusão e transcendência. Na cultura popular, sua presença é marcante em animes, jogos e outras mídias que exploram temas místicos e psicológicos. No universo de Naruto , por exemplo, inspira técnicas como o genjutsu de Itachi , que aprisiona suas vítimas em uma realidade ilusória e distorcida, e o plano do Infinite Tsukuyomi , que projeta uma ilusão global usando a lua como catalisador. Essa associação com a lua como veículo de poder e ilusão ecoa diretamente os mitos originais do xintoísmo. O nome também aparece em diversos jogos: em Smite, Tsukuyomi é um deus lunar jogável com habilidades mágicas e regeneração de mana; em Ōkami , é o nome da espada em forma de lua crescente empunhada por Nagi ; já em God’s Eater , surge como uma entidade divina com aparência humanoide. Essas representações mantêm viva a figura de Tsukuyomi na imaginação contemporânea, reatualizando seus símbolos em narrativas modernas.                                           O mito do conflito entre Tsukuyomi e Ukemochi é uma narrativa profundamente simbólica dentro do xintoísmo, servindo como alegoria para a fragilidade da convivência entre o sagrado e o profano, o contraste entre a ordem ritual e os impulsos instintivos da natureza, e o início da separação cósmica entre luz e escuridão. Quando Tsukuyomi mata Ukemochi por julgar impuro o modo como ela produzia alimentos, desencadeia não apenas um rompimento divino com Amaterasu , mas também um ciclo simbólico onde a morte gera vida — já que dos restos da deusa surgem os grãos e os animais. Essa dualidade é celebrada até hoje em rituais agrícolas e festivais sazonais que honram a generosidade da natureza. Tsukuyomi-no-Mikoto , portanto, representa não só a lua e o tempo, mas também a complexa beleza da mitologia oriental, lembrando-nos de que os conflitos, mesmo entre os mais próximos, podem ser parte essencial do equilíbrio que sustenta a existência — a eterna dança entre o dia e a noite.


 

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