A Cabala no corpo humano

 Nosso corpo é uma importante ferramenta de contato com as emoções, com os elementos da natureza que o forma, com a alma e com a mente, repetindo a história de sua criação. Para uma explicação do corpo arquetípico foram utilizadas questões da Cabala no plano expressivo da manifestação do arquétipo. A palavra Cabala significa "Tradição". Ela é um sistema de compreensão do mundo místico judaico, onde acredita-se que seja possível entender Deus. Mas, com o passar dos anos a Cabala evolui como forma de compreensão da organização do esquema corporal da vida, sendo chamada também de a Árvore da Vida. A árvore é um símbolo sagrado encontrado nas mais diversas culturas em diferentes épocas, ela faz parte do inconsciente coletivo. Segundo a psicóloga Angelita Scárdua, ela representa a estrutura do universo, seus galhos representam a conexão com as dimensões superiores e sagradas da existência humana, já as raízes simbolizam a ligação com os aspectos inferiores, primitivos e básicos, funcionais da vida. Seus frutos dão a ela atributos positivos do eterno. Sempre damos significados a algo tentado explicar a nossa própria existência, e uma forma pela qual fazemos isso é na utilização da Metáfora Espacial, que é algo simples que nos auxilia a compreensão arquetípica dos símbolos. Ela se refere às dimensões físicas, "cima", "baixo", "esquerda" e "direita", todos estes têm uma associação em diversas áreas inclusive com o corpo. Quando se fala que estamos nos sentindo bem, felizes ou com outros sentimentos positivos diz-se que nós percebemos para "cima", e quando estamo-nos sentindo mal, tristes diz-se que nos sentimos para "baixo". Pode-se ver que sempre usamos os significados da metáfora espacial em nossas vidas. Na religião, nos contos-de-fada, na mitologia, pode-se ver que associamos o sagrado, o divino, o espiritual, o bondoso, o superior e os deuses com o espaço geográfico do alto, e quando falamos do mal, desonesto, sujo, diabo ou seres maléficos e as perdas, liga-se à ideia do espaço geográfico subterrâneo e inferior. Com essa explicação torna-se mais fácil entender o sentido filosófico e existencial da Árvore da Vida no sentido cabalístico. Na parte superior da árvore cabalística localizada na cabeça vemos a Coroa e na parte inferior localizado nos pés e pernas vemos o Reino, o que simbolicamente demonstra a conexão do sagrado com o mundano. Há também na cabala a separação do lado esquerdo com a escuridão e impureza, e no lado direito temos a fonte da luz e da pureza. Sempre associamos inconscientemente a parte esquerda do corpo com algo negativo, pois biológica e culturalmente não se desenvolve este lado, evoluímos desenvolvendo o lado direito. O lado esquerdo mostra no esquema corporal o coração que é símbolo da emoção e também é o lado do inconsciente, pois é o lado menos trabalhado, e nele existem muitas emoções perdidas e não trabalhadas, por isso o associamos ao impuro e ao escuro, pois está mal resolvido e escondido. Já o lado direito é naturalmente o lado mais desenvolvido na maioria das pessoas, é o lado do "trabalho" porque evoluímos utilizando essa parte do corpo, portanto é a zona do consciente, da luz, pois é o que se conhece e temos a percepção mais avançada. A luz é o símbolo típico do conhecimento em todas e quaisquer mitologias, contos-de-fada e religiões. Isso também é biológico, basta olhar para os tempos ancestrais. Nesta época fazíamos tudo durante a parte clara do dia, porque era menos perigoso e nos permitia boa visão das coisas ao nosso redor, já a noite não tínhamos auxilio da luz para enxergar nada, existiam inimigos à espreita, feras e o desconhecido. Por isso damos à luz o símbolo do conhecimento e às trevas o significado de sombrio, perigoso e maléfico. A esquematização simbólica da Cabala se organizou de acordo com a experiência evolutiva 

humana. Segundo o livro Zohar (Esplendor) – um livro místico judaico – ensina, que a alma humana se divide em três elementos básicos: o Nefesh que se associa aos instintos, aos desejos corporais e é a parte inferior e animal da alma; o Ru'ach, que é associado às virtudes morais e à habilidade de distinguir o bem e o mal, é a parte mediana do espírito, e o Neshamah, que é a parte que nos separa claramente das outras formas de vida, relaciona-se com o intelecto, permite que o indivíduo tenha consciência de Deus. E com o Raaya Meheimna – um livro posterior ao Zohar – ainda se incluem mais dois níveis: o Chayyah, que nos permite ter a percepção do divino e o Yehidah, que possibilita ao homem a união máxima com Deus, é a parte mais superior da alma. Com isso, fica mais clara a árvore cabalística na Metáfora Espacial. Ainda existem dez centros cabalísticos no corpo simbólico, chamados Sephirots, que significam "safiras" ou "luzes cintilantes" que funcionam vinculadas umas às outras. Segundo a psicoterapeuta Junguiana Lucy Penna, são localizações imaginais de dez arquétipos. Esses Sephirots são interligados gerando vinte e dois caminhos) são as dez emanações de Ain Soph na cabala. Segundo a cabala, Ain Soph é um princípio que permanece não manifestado e é incompreensível à inteligência humana. Deste princípio emanam os Sefirot em sucessão. Esta sucessão de emanações forma a árvore da vida. Os Sefirot emanados são, na sequência: 

 

Kether - Coroa Chokmah - Sabedoria Binah - Entendimento Chesed - Misericórdia Geburah - Julgamento Tipareth - Beleza Netzach - Vitória Hod - Esplendor Yesod - Fundamento Malkuth – Reino 

 

Há ainda um décimo primeiro Sefira, chamado Daath, que representa o abismo, o caos, e normalmente não é representado na árvore da vida, sendo considerado um portal para as qliphoth, as sephiroth adversas. Na árvore da vida os Sefirot estão alinhados em três pilares conectados entre si por meio de vinte e duas ligações. Também se dispõem em três camadas triangulares e sucessivas, cada uma delas associada a um mundo (Atziluth, o Mundo das Emanações; Beriah, o Mundo das Criações; e Yetzirah, o Mundo das Formações), mais Malkuth na base (correspondendo a Asiyah, o Mundo das Ações). 

 

Logo abaixo seguem suas localizações e seus aspectos simbólicos. 

 

Malkhuth (O Reino) – localiza-se nos pés e em nossas pernas, é o contato com o solo, representa a conexão com a parte instintiva, animal humana é a realidade física. Engloba também a energia de sustentação do corpo e da vida, é o local da energia telúrica, ou seja, a energia de ação, e simbolicamente é o contato com a Mãe Terra, Gaia, que na mitologia grega é a deusa-mãe terra, a criadora e geradora dos outros deuses, ela representa o interior humano, fonte de emoções mais primitivas. 

 

Yesod (Fundamento / Forma) – localiza-se acima dos órgãos genitais e abaixo do abdômen, é o local que funciona como um reservatório das inteligências e da criatividade, nesse local os atributos são misturados, equilibrados e preparados para a revelação física. É o centro que reúne informações de oito das sephirots. Essa área do corpo é conhecida 

como o ventre, ele é o centro da consciência humana, lá equilibramos todas as energias vitais e sexuais. Representa o contato com a vida e com o feminino. Yesod é olhar-se para si mesmo sem usar máscara alguma, permitindo, assim entrar em contato com o eu profundo, criativo e verdadeiro. Sua imagem arquetípica é a lua. 

 

Netsach (Vitória / Poder / Eternidade) – localiza-se no lado esquerdo próximo entre a parte superior da coxa e a cintura. Fica no local do Íleo (osso que forma a pelve), é o local onde se abriga o centro responsável pelo contato com o próximo, surge daí o desejo de superar os próprios limites. É ligado ao fato de saber lidar bem com as paixões e com a sedução. Engloba ainda o princípio fálico fertilizador, e assim representa o local do masculino. 

 

Hod (Glória / Majestade) – localiza-se no lado oposto a Netsach, é um canal de melhoria interna e de contato com o outro, representa a aceitação dos pensamentos e reconhecimento do eu em relação ao outro, ou seja, criação do espaço interno e individual. É o principio receptivo dos óvulos femininos. A energia criativa de Yesod surge de uma comunicação entre Netsach e Hod. 

 

Tipheret (Beleza / Coração) – Situa-se no centro do tórax em cima do coração, é o centro da Árvore da Vida. Aqui temos a complementação de consciente e inconsciente, local onde se integram os opostos, trazendo, assim a inteligência emocional, sendo o centro da sabedoria da vida e do entendimento sobre a luz do ego (consciência). É fonte de emoções superiores como os amores, principalmente o amor ágape. [Para os gregos existem quatro tipos de amor, que são: Eros (o amor físico e sexual, a paixão), Storge (o amor familiar), Philos (o amor entre amigos, a amizade) e por ultimo o Ágape (o verdadeiro amor, o incondicional)]. O amor Ágape significa generoso, é o amor que se escolhe ter, um bom exemplo desse amor é dado por Jesus Cristo. É o centro cabalístico que tem como imagem arquetípica o sol. 

 

Geburah (Justiça / Rigor) – Está localizado no ombro direito, é o centro de controle dos desejos responsável por questionar os impulsos e as vontades. Centraliza a energia arquetípica, canalizando-a em questões objetivas do mundo real, como o ideal de superar as barreiras e transformar a própria vida. 

 

Chesed (Misericórdia) – Está localizado no lado oposto de Geburah, é o local que representa a vontade de compartilhar as boas emoções da vida, o impulso de se doar ao próximo e também é conhecido como compaixão. De ponto de vista simbólico é o local do intuitivo, do espiritual e da bondade. 

 

Binah (Sabedoria / Entendimento) – Situa-se no lado esquerdo do cérebro, fica na área da razão do ser humano. Este ponto cabalístico influencia as definições racionais e a organização do pensamento ou planejamento concreto de algo. Tem ligação com o símbolo arquetípico da água, que sempre está associada ao feminino e ao futuro. 

 

Chokmah (Razão / Inteligência) – Está associado ao lado direito do cérebro. É a região da intuição, das manifestações artísticas, da criatividade e das grandes ideias, tem como imagem arquetípica o elemento fogo, que se associa ao masculino e ao passado. 

 

 

 

Kether (Coroa) – É a copa da árvore, situa-se na parte superior da cabeça. É a unificação de todos os sephirots, representa a Luz Superior, gera todo o potencial criativo. No hinduísmo é visto como o Brahma, o princípio da energia vital. Nesse ponto concentra se as experiências da vida, dando passagem ao reino espiritual. Ao nível simbólico podemos dizer que é o caminho iniciatico para a conexão com o Inconsciente Coletivo. 



 

 

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