Introdução ao hinduísmo - aula I - Prof. Ryujim.

O que é o hinduísmo? O hinduísmo é uma das mais antigas e complexas tradições religiosas, surgindo na Índia há milhares de anos. É considerado uma das primeiras "religiões" do mundo. É uma tradição que engloba uma grande variedade de crenças espirituais, filosofias, rituais, práticas e tradições culturais. Não possui um fundador nem uma tradição centrada em um líder. Os ensinamentos do hinduísmo são encontrados em textos antigos como os Vedas, Upanishads, Bhagavad Gita e muitos outros. A religião abrange uma variedade de crenças sobre divindades, karma, dharma (lei da Deusa/dever moral), samsara (ciclo de nascimentos e mortes) e moksha (libertação espiritual), mão esquerda e direita. O hinduísmo também segue uma variedade de práticas rituais, como puja (adoração), meditação, yoga, tantra e festivais religiosos. Seus seguidores podem adotar diferentes formas de devoção, desde a adoração de divindades específicas até a busca da realização espiritual através do conhecimento, da ação correta e da meditação. Karma e Dharma são conceitos que não são tão simples de entender, pois cada povo ou Cultura vai desenvolver uma visão.
Karma e Dharma: O karma é compreendido como a lei de causa e efeito, onde as ações de um indivíduo têm consequências inevitáveis, moldando não apenas a sua realidade atual, mas também influenciando o seu futuro. Dentro dessa perspectiva, o aprendizado adquire um papel fundamental, pois permite que se evite cometer os mesmos erros, compreendendo como agir de forma mais consciente e alinhada com o dever moral (lembrando que Karma vai muito além de algo punitivo ou aprendizados, e pode mudar de acordo com as crenças e regiões). Já o dharma é o conceito que abrange o cumprimento do dever moral e social, representando a responsabilidade de cada indivíduo em relação à sua própria conduta e às suas interações com o mundo ao seu redor. O dharma também enfatiza a importância do aprendizado contínuo, visando não apenas evitar erros passados, mas também buscar a evolução pessoal e coletiva (também representa a lei Divina da deusa).
Om e a suástica Hindu: O símbolo "Om" é considerado um dos mais sagrados e reverenciados no hinduísmo. Ele representa o som primordial, a essência do universo e a interconexão espiritual de todas as coisas. O "Om" é recitado como um mantra em práticas espirituais, simbolizando a busca pela unidade e transcendência espiritual. Por outro lado, a suástica hindu tem sido historicamente associada à boa sorte, prosperidade e bem-estar dentro da cultura hindu. No entanto, durante o século XX, a suástica foi adotada por grupos extremistas, resultando em uma associação profundamente negativa com ideologias odiosas, principalmente devido ao seu uso durante o regime nazista na Alemanha. Devido a essas conotações negativas, algumas regiões e comunidades optaram por enfatizar o uso do símbolo "Om" em vez da suástica, no entanto, nem todas as regiões adotaram essa prática da mudança de símbolo e a suástica hindu ainda é muito utilizada como símbolo de representação no sul da Índia (principalmente nas regiões de tamil).OBS: Uma curiosidade muito interessante é que a suástica é um símbolo de Ganesha. Outro assunto que pode causar discussões é o fato do Hinduísmo ser considerado uma religião.
Simbolo OM.
Suástica Hindu.
Religião ou prática espiritual? O hinduísmo pode ser considerado tanto uma religião quanto uma prática espiritual, pois isso depende unicamente do ponto de vista e da abordagem adotada. Para muitos, o hinduísmo é muito mais do que uma religião e é visto como uma busca de autoconhecimento e realização. Para outros, é um modo de vida e uma prática diária que inclui aspectos espirituais, morais e sociais. Existem diversos caminhos que podem ser seguidos no hinduísmo, tornando quase impossível caracterizá-lo como uma religião. No entanto, ainda assim existem vertentes que se consideram religiões, sendo elas: - Vaishnavismo: Centrada na adoração de Vishnu e suas várias encarnações, como Rama e Krishna. - Shaivismo: Centrada na adoração de Shiva como a divindade suprema, muitas vezes enfatizando a importância da meditação e do ascetismo. - Shaktismo: Centrada na adoração da Deusa Primordial, Shakti, em suas diversas formas, como Parvati, Durga e Kali. - Hare Krishna (ou Gaudiya Vaishnavismo): Uma tradição devocional centrada na adoração de Krishna como a divindade suprema. As práticas "mão esquerda" (vamachara) e "mão direita" (dakshinachara) referem-se a diferentes abordagens para a espiritualidade e religiosidade. As práticas "mão direita" são geralmente associadas a abordagens mais convencionais, baseadas em rituais, moralidade social e adoração de divindades dentro das normas estabelecidas. Por outro lado, as práticas "mão esquerda" são frequentemente associadas a abordagens mais radicais, que podem incluir o uso de técnicas como o tantra, a quebra de tabus sociais e uma visão menos convencional da espiritualidade. Isso inclui rituais de sangue e sacrifício de animais.
Carne e Vaca Sagrada: Muitos hindus seguem uma dieta vegetariana devido aos ensinamentos e práticas de não violência e valorização da vida. Em algumas tradições, o consumo de carne é estritamente proibido, pois acredita-se que uma alimentação vegana ou vegetariana promove pureza e purificação no corpo. No entanto, em certas regiões da Índia e em rituais específicos, o consumo de carne é liberado. Este consumo está mais presente para alguns seguidores do Shaktismo, embora ainda seja considerado um tabu e errado por muitos hindus. A vaca é um animal cheio de simbolismo para os hindus, representando a deusa da terra. Segundo a lenda, a terra (Prithvi) parou de dar frutos devido às ações descontroladas do rei, que estava causando destruição e devastação. Diante disso, a deusa Prithvi tomou a forma de uma vaca para escapar da ira do rei e encontrar refúgio nos céus. Ela buscou ajuda dos deuses para interceder em seu nome e restaurar a harmonia e fertilidade à terra. A partir desse evento, a deusa passou a ser adorada na forma de uma vaca, ganhando assim o simbolismo de sagrada.
"Bali" e os rituais com sangue: Os rituais com sangue são considerados tabus na sociedade, muitos não os aprovam pela crueldade e acham desnecessários. No entanto, no contexto do Shaktismo, as Deusas muitas vezes são honradas com sacrifícios e sangue. Com o crescimento das vertentes de Vishnu e Krishna, esses atos começaram a ser considerados errados e cruéis, assim algumas divindades começaram a ser honradas somente com frutas, flores, incensos, leite, mel, plantas sagradas e itens considerados auspiciosos. Existe um ritual interessante em que um bode ou búfalo é morto com uma espada afiada, sua cabeça é colocada no altar como troféu para a Deusa, o sangue é jogado em um buraco ou servido para a Deusa beber, e a carne é distribuída entre os membros para que possam comer ou levar para suas famílias.
Bali ou puuja ? Os rituais de Bali podem ser mais elaborados em comparação com as puujas comuns, e tendem a seguir um conjunto específico de procedimentos rituais. Por outro lado, as puujas comuns no contexto do Shaktismo envolvem a adoração da Deusa por meio de diversos elementos como flores, frutas, incenso, lâmpadas acesas, mantras e cânticos devocionais. As puujas são geralmente realizadas como uma prática diária ou em ocasiões especiais, e buscam estabelecer uma conexão íntima com a divindade por meio da reverência e contemplação. Enquanto os rituais de Bali enfatizam a natureza ritualística das oferendas simbólicas, as puujas comuns destacam a importância da comunhão espiritual e da expressão devocional por meio de gestos reverenciais e práticas contemplativas.
Tantra: O Tantra é uma prática de autoconhecimento e evolução espiritual, na qual o indivíduo toma consciência do seu eu interior e aprende a lidar com suas sombras, libertando-se de vícios e apegos terrestres que impedem o espírito de ser livre. O Tantra é verdadeiramente maravilhoso e incrível. No entanto, uma ideia totalmente diferente começou a circular no Brasil e em outros lugares, onde o Tantra se tornou associado a massagens sexuais e atos de depravação, desviando-se do contexto da força e da energia da deusa que rege o Tantra.
AGHORI: Os Aghoris são membros de uma seita ascética do hinduísmo, conhecida por suas práticas espirituais extremas e frequentemente mal compreendidas. Eles são considerados devotos de Shiva e seguem uma abordagem única em relação à espiritualidade e ao mundo material. Os Aghoris acreditam na transcendência das dualidades, como o bem e o mal, buscando a realização espiritual através da superação de tabus e da aceitação de todos os aspectos da existência. Isso inclui práticas que podem ser consideradas chocantes ou incomuns, como o consumo de carne humana, meditação em locais de cremação, uso de cinzas crematórias no corpo, entre outros. No entanto, é importante notar que as práticas dos Aghoris são frequentemente mal interpretadas. Para eles, essas ações extremas têm um propósito espiritual específico e simbólico, buscando a transcendência das limitações do mundo material e a realização da união com o divino.

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