HECATE DO HELENISMO PARA O MUNDO. - MESTRE: ARCANJO PATHER ANDREIPHONTES.

Vamos falar hoje sobre a Deusa mais amada e mais discutida no mundo mágico. Falar sobre Hecate é sempre um desafio, eu acabo lembrando sempre de uma parte do finalzinho do Credo das Bruxas que diz "como amar um amor que ninguém possa magoar".

Como amar e falar sobre essa Deusa tão popular sem magoar a visão de ninguém, acredito que todos aqui já saibam, mas se não sabem ainda eu sou Um Sacerdote Helênico, meu Sacerdócio é dedicado a Ares o Deus da Guerra e tenho Hecate como minha Deusa de equilíbrio e Hermes como contraponto, um dia eu explico isso melhor. Dentro do Helenismo, a visão dos anfitriões do culto aos Deuses gregos Hecate é uma Deusa cultuada em todos os lares helênicos, os chamados Oikos. Isso contrapõe um pouco a visão mais sombria que a era moderna traz de Hecate, Senhora da Magia, da Bruxaria, dos feitiços e dos mortos e por aí vai.

Mas, na verdade, quando estudamos um pouco mais a fundo, vemos que essa contradição não é tão real assim, até porque sempre que falarmos sobre Helenismo precisamos manter uma coisa muito fixa em nossa mente:

Nós vivemos em um estado laico e a Grécia antiga era um estado religioso e isso faz uma diferença enorme em milhares de pontos de vista. Hecate era cultuada em todos os lares helênicos como uma Deusa protetora do lar e seu altar era construído do lado de fora das casas, ao lado do portão, com Hermes e Apolo Noumenion.

Só aí a gente já tem um indício do porquê dessa ideia de uma Hecate mais trevosa (acho essa palavra muito engraçada) não ser uma realidade tão distante assim. Hecate, Apollo e Hermes são Deuses responsáveis por proteger o nosso lar e a nós mesmos, quando estamos fora de casa, por isso sempre ao sair e ao voltar uma libação era feita a eles.

Então, Hecate é uma Titanide ou Titã de terceira geração. E passando muito por alto no mito de Hecate, ela vivia com os pais até ser exilada por roubar o pote de carmesim de sua mãe. Na época, não existia o Hades como ele é hoje, mas foi para aquele lugar que ela foi exilada e ali onde ela chama a atenção de Nix.

Nix a mãe de todas as criaturas da noite, vai para a dança das horas e é a Hecate que ela confia a sua majestade sobre a noite. Hecate herda o legado de Nix se tornando a primeira rainha do que seria o prelúdio do Hades e, também, como alguns psicólogos amam dizer, o inconsciente coletivo.

Lembram aquela história de que contém e está contido...

Matemática um saco, eu sei.

Mas o subconsciente coletivo e o submundo têm uma ligação que passa por aí. Tudo isso que eu estou falando é a base da Hecate que temos no mundo moderno e que, com o tempo, eu aprendi a amar, respeitar e entender que também é a minha Deusa. Hecate Helênica não são Deusas diferentes, mas elas apenas seguem abordagens distintas.

Os diversos rituais feitos a Hecate fora do Helenismo em muitas das vezes são inconcebíveis dentro do Helenismo por questão de miasma. Eu tenho um texto que preparei como base para uma palestra que dei em um evento aqui no Rio há uns anos e eu vou disponibilizar ele aqui. Mas quem já assistiu alguma aula minha sabe como funciona... Esse texto tem todos os links de referência que usei para escrever, então é uma boa fonte de pesquisa também, mas como eu disse, é um texto base para palestra, então o texto puro não traz muita informação, mas traz muita provocação de onde e como pesquisar.

Hecate origens e Epítetos da Rainha das Bruxas.

EM DEFESA DE UMA HECATE HELÊNICA. 

 Falar de Hecate atualmente é uma tarefa complicada. O título de Deusa da Magia e Rainha das Bruxas popularizou o culto a essa Deusa de forma desenfreada e impulsionou na sociedade pagã uma onda de equívocos, mal entendidos e interpretações errôneas sobre suas origens e atribuições que ganham cada vez mais forma no mundo pagão. A minha intenção com este documento não é escrever uma verdade para agregar a ela, ou a mim, seguidores cegos, até porque para ter seguidores hoje em dia é muito mais fácil que isso, é só ter uma conta no twitter. A ideia aqui é expor a opinião do nosso grupo Telestérion de Olímpia e minha também, pois tenho essa Deusa como minha Deusa de culto. Uma discussão que sempre está na toda da lista das divisões de opiniões sobre a Deusa é quanto à sua origem. Há quem diga que Hecate é uma divindade originária da Anatólia e que teria sido adotada pelos gregos. Outra hipótese é que a Deusa seria um tipo de interpretação grega da Deusa Recém, uma Deusa egípcia do parto e da fertilidade, às vezes ligada à ressurreição. É uma deusa com cabeça-de-rã e quase sempre representada como um sapo ou uma mulher com a cabeça de um sapo, o que indicava a fertilidade, já que o sapo era considerado um animal muito fértil para os antigos egípcios. A Deusa Recém dividia seu espaço com Bes e Tauret, que também eram considerados deus e deusa do parto. Muitos amuletos em forma de sapo eram utilizados por mulheres grávidas que precisavam de proteção para seu recém-nascido. Um templo dedicado a Heket foi encontrado no alto Egito em Qus. Na décima oitava dinastia representações de Heket podem ser vista na cena “Nascimento Divino” do templo Deir el-Bahar. A associação entre as Deusas é visível não apenas pelos seus nomes, mas também pelos seus atributos, pois mesmo Hecate não sendo conhecida como a Deusa da fertilidade na Grécia o final do Hino a Hecate na Teogonia, vv.404-452 explícita uma das honras concedidas por Zeus à Hecate como a responsável pelo parto trazendo as crianças à luz do mundo. “O Cronida a fez nutriz de jovens que depois dela, com os olhos, viram a luz da multividente Aurora. Assim dês o começo é nutriz de jovens e estas as honras.” (Tradução de Jaa Torrano) A ideia de que a Deusa egípcia tenha “inspirado” a criação do culto a Hecate baseia-se e claro pelas semelhanças vistas acima e na datação dos manuscritos, pois apesar da teogonia de Hesíodo ser o mais antigo tratado da mitologia grega que chegou até nós ele data aproximadamente do século VIII Antes da Era Comum e como vimos acima uma das datações de representações da Deusa Heket são da décima oitava dinastia que foi criada após a expulsão dos Hicsos, que comandaram o Egito por quase duzentos anos, e durou de  1550 Antes da Era Comum à 1295 Antes da Era Comum.  No entanto, chegar ao ponto de afirmar que uma deidade foi, falando a grosso modo, copiada de outra mais antiga, no meu ponto de vista põe em cheque todos os mitos religiosos das civilizações posteriores, pois essa série de semelhanças é vista entre diversas deidades de diversos panteões pelo mundo. No que diz respeito à origem trácia de Hecate, o debate fica um pouco mais acalorado, levando até hoje pesquisadores e historiadores a uma gama enorme de teorias e suposições e contestações de um vasto número de documentos. Quando se pesquisa sobre a origem de Hecate, uma série de sites e livros chegam a afirmar sua origem sendo das cidades carias, como, por exemplo, o site mais popular de pesquisas na atualidade (Wikipédia) que começa a contar a história da Deusa da seguinte forma: “Hecate (em grego clássico: Ἑκάτη Hecate ou Ἑκάτα Hekáta; transl.: Hekátē), na mitologia grega, é uma deusa, naturalizada na Grécia micênica[1] ou na trácia, [2], mas oriunda das cidades carias de Anatólia...”. No entanto, o que a maioria, para não dizer todos, esses livros e sites tem em comum é o fato de não explicar em que se baseia essa teoria, apenas a trazendo de forma afirmativa, dando pouca ou nenhuma explicação sobre sua origem. Na tese de mestrado de Trícia Magalhães Carnevale “Hecate, de deusa ctônica dos atenienses do período clássico à deusa da feitiçaria no imaginário social do Ocidente” para a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, encontraremos uma série de apanhados históricos e opiniões diferenciadas de diversos historiadores sobre as origens de Hecate. Entre elas, inclusive, as explicações para essa teoria de uma Hecate não grega. O que não quer dizer que a autora seja imparcial em seu trabalho, na verdade, ela explicita com todas as palavras que o intuito do seu trabalho é a defesa de uma Hecate Helênica “Em uma visão ocidental moderna, a deusa Hecate foi difundida entre os gregos por Hesíodo no século VII a.C., e mesmo concordando que a família de Hesíodo prestasse honras à deusa e que sua família tivesse vindo da Anatólia (Cyme, Aeólia) para a Grécia Central (Ascra, Beócia), acreditamos que Hekate seja uma deusa grega. Comprovar sua matriz grega ajuda a compreender a presença da deusa no imaginário social que irá construir e reconstruir sua identidade no século V a.C. a partir da narrativa mítica de Hesíodo.” O pesquisador Robert Von Rudloff situa seu estudo acerca de Hekate na religião grega no período clássico em sua obra “Hekate in Ancient Greek Religion”. O especialista analisa a presença de Hekate nos clássicos de Hesíodo (século VII a.C.) e Homero (século VIII a.C.), localiza os principais tipói de culto à deusa, relaciona-a a divindades como Hermes, Ártemis, Perséfone, Deméter, Apolo, Hélio, Cibele e outras, e aborda os principais epítetos da deusa Hekate, a saber: propylai (guardiã apotropaica), propolos (companheira e guia), phôsphoros (iluminadora), kourotrophos (“enfermeira”) e chthonia (deusa do Mundo Subterrâneo/do Morto), dentreoutros. A abordagem de Rudloff (1999) enriquece a historiografia a respeito da deusa grega. O autor aponta a ligação da deusa Hekate aos animais, como cães, cobras e peixes. Também destaca a descoberta de nomes teóforos na Cária (Turquia), os quais podem demonstrar o valor da deusa ou ainda indicar a matriz de seu culto.

Porque comecei falando de Hecate nos lares helênicos porque entre os teóricos uma das teses que há anos atrás tinha ganho mais força era de que Hecate não era uma Deusa Grega e sim teria sido incorporada ao panteão grego, e por isso a explicação para toda a visão que temos de Hecate fora do Helenismo.

Com o tempo e com o aparecimento arqueológico de alguns manuscritos que são até hoje (muito mal comparando) uma bíblia helênica, essa teoria acabou sendo descartada. Sem contar que o próprio entendimento cultural e social do Helenismo não permitiria tal acontecimento. Um povo extremamente orgulhoso de si, de sua cultura e de seus Deuses não pegaria uma Deusa que estivesse passando na esquina e falariam: oi, estamos precisando de uma Divindade feminina para completar o time que defende o lar, quer entrar no jogo??

Essa ideia, acredito eu, Pather Andreiphontes, vem muito também do fato de que os Titãs já estavam aqui antes dos Deuses. Antes de Deméter ser a Deusa da Terra e da Fertilidade, Gaia já era a própria terra fértil e, quando o Invisível chega para governar o submundo, ele não contratou uma construtora para construir seu palácio e seu trono. O Submundo já estava lá. Zeus só chamou o Aidoneu de dono...

Mas até mesmo o próprio Zeus sabe aonde mexe e onde não mexe. O cara arruma problema com Deus e o mundo, mas Hecate, Afrodite e as Moiras, é sempre bom deixar quietinhas e fazendo o que elas quiserem fazer para não dar muito problema...

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