A Bruxaria Ocidental no Japão Contemporâneo: Iniciados do Covil: Akane
Ásia oculta
A Bruxaria Ocidental no Japão Contemporâneo
Religiões no Japão
O Japão possui uma rica diversidade religiosa, marcada pela convivência harmoniosa entre o xintoísmo, o budismo e, em menor escala, o cristianismo. Essa pluralidade reflete uma abordagem prática e flexível da espiritualidade.
Xintoísmo (神道, Shintō)
O xintoísmo é a religião nativa do Japão, centrada na veneração dos kami — espíritos ou divindades associadas a elementos da natureza, ancestrais e fenômenos naturais. Sem uma doutrina formal ou textos sagrados, o xintoísmo se manifesta em rituais cotidianos, como orações em santuários, festivais (matsuri) e práticas de purificação. O ciclo da vida é celebrado por meio de ritos de passagem, como o miyamairi (primeira visita de um bebê ao santuário).
Budismo (仏教, Bukkyō)
Introduzido no século VI, o budismo influenciou profundamente a cultura japonesa. Enquanto o xintoísmo se foca na vida presente, o budismo aborda questões sobre o pós-vida, sendo comum que cerimônias fúnebres sejam conduzidas por monges budistas. Existem várias escolas de budismo no Japão, como a Zen, a Terra Pura (Jōdo) e a escola Nichiren. Os templos budistas são locais de reflexão e meditação, e as práticas incluem orações, oferendas e a recitação de sutras.
Sincretismo Religioso
No Japão, não há contradição em praticar o xintoísmo e o budismo simultaneamente. Um exemplo comum é a tradição de se casar em uma cerimônia xintoísta e realizar o funeral seguindo rituais budistas. Essa flexibilidade reflete a visão japonesa de que as práticas religiosas são mais culturais e pragmáticas do que baseadas em dogmas.
Cristianismo e Outras Religiões
O cristianismo chegou ao Japão no século XVI por meio de missionários portugueses e jesuítas. Após perseguições, a prática cristã foi reprimida até o século XIX. Hoje, os cristãos representam cerca de 1% da população japonesa. Embora pequeno, o cristianismo teve impacto cultural, especialmente em casamentos no estilo ocidental. Além disso, há praticantes de novas religiões japonesas (shinshūkyō), como Soka Gakkai e Tenrikyo, que surgiram no período Meiji (1868-1912) e combinam elementos de xintoísmo, budismo e outras crenças.
Visão Moderna da Religião no Japão
Para muitos japoneses, religião não se associa à "fé" ou "crença" no sentido ocidental, mas a rituais culturais e práticas de bem-estar espiritual. Muitas pessoas se identificam como "não religiosas" (無宗教, mushūkyō), mas ainda participam de rituais xintoístas e budistas, especialmente durante festivais e eventos sazonais, como o Hatsumōde (primeira visita ao santuário no Ano Novo).
O Japão, portanto, exemplifica uma forma singular de religiosidade, na qual tradição, pragmatismo e sincretismo coexistem, moldando a relação do povo com o sagrado.
História da Bruxaria Ocidental no Japão
A magia ritual chegou ao Japão antes da bruxaria. Nos anos 1970, o movimento ocultista foi trazido dos EUA, possivelmente por meio da presença militar americana. Na década de 1980, foram publicados livros sobre a Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn), o que levou à criação de sociedades secretas para praticar suas doutrinas. O Ordo Templi Orientis (O.T.O.) fundou uma loja em Tóquio em 1988. Nos anos 1990, a Wicca e a bruxaria ocidental se popularizaram no Japão com a tradução de obras, como "Spiral Dance" de Starhawk.
A bruxaria ocidental no Japão é uma mistura de influências culturais, literárias e esotéricas que emergiu no século XX, especialmente após a abertura do país ao Ocidente durante a Restauração Meiji (1868-1912). Embora o Japão tenha suas próprias tradições místicas, como o Onmyōdō e o xintoísmo, o fascínio pelas bruxas ocidentais foi alimentado por livros, filmes e animes.
Influências Ocidentais
No início do século XX, traduções de obras europeias sobre ocultismo e esoterismo começaram a chegar ao Japão, trazendo conceitos de alquimia, tarot e magia cerimonial. Essas ideias foram incorporadas ao cenário cultural japonês, misturando-se com elementos locais. Durante o século XX, a imagem da "bruxa" ganhou popularidade, principalmente no entretenimento, através de filmes, animes e mangás, como Kiki's Delivery Service (O Serviço de Entregas da Kiki), de Hayao Miyazaki.
Bruxaria na Cultura Popular
No Japão, as bruxas ocidentais foram romantizadas e adaptadas ao público local. Diferente da visão medieval europeia, em que bruxas eram perseguidas e associadas ao mal, as bruxas japonesas muitas vezes são vistas de forma positiva. Personagens de animes e mangás retratam bruxas como jovens estudantes de magia, simbolizando independência, força e liberdade. Essa representação se diferencia das imagens tradicionais de bruxas europeias e reforça temas de amadurecimento e autodescoberta.
Esoterismo e Práticas Contemporâneas
Nos dias atuais, práticas esotéricas de inspiração ocidental, como tarot, astrologia e cristais, ganharam popularidade no Japão, especialmente entre jovens mulheres. Embora não seja exatamente "bruxaria" no sentido tradicional, essas práticas são frequentemente associadas ao "misticismo moderno" e à busca por bem-estar espiritual. Livrarias e lojas especializadas oferecem uma variedade de livros, amuletos e instrumentos rituais inspirados na magia ocidental.
Sincretismo Cultural
A bruxaria ocidental no Japão não substituiu as práticas espirituais nativas, mas coexistiu com elas. Assim como outras tradições religiosas no Japão, a bruxaria foi reinterpretada e incorporada à cultura popular. Esse sincretismo permite que práticas ocidentais e orientais coexistam em harmonia, influenciando desde a moda (dark kawaii) até a produção de animes e videogames que exploram a figura da bruxa.
A "bruxaria" no Japão, portanto, não segue o conceito histórico europeu de perseguição e feitiçaria, mas se reinventa como um símbolo de empoderamento, autodescoberta e independência feminina.
No entanto, o ataque de gás sarin no metrô de Tóquio em 1995, realizado pela seita Aum Shinrikyo, levou a uma estigmatização de práticas ocultistas, fazendo com que os praticantes de magia recuassem para atividades privadas.
Adaptação da Bruxaria Ocidental no Japão
Os praticantes de bruxaria no Japão seguem práticas ocidentais, mas com adaptações locais. Muitos possuem altares em casa, celebram os sabás e utilizam o conceito dos quatro elementos (terra, ar, fogo e água). No entanto, algumas adaptações refletem as tradições culturais japonesas. Por exemplo, enquanto o Samhain (associado ao Halloween) no Ocidente é a celebração dos ancestrais, no Japão, o retorno dos ancestrais ocorre durante o Obon (no meio de agosto), o que pode criar uma sensação de desconexão para os bruxos japoneses. O Obon é uma tradicional celebração japonesa que ocorre anualmente, geralmente em agosto (ou julho em algumas regiões), para homenagear e recordar os espíritos dos ancestrais falecidos. Acredita-se que, durante esse período, os espíritos retornam ao mundo dos vivos para visitar seus familiares.
As práticas incluem a limpeza de túmulos, danças folclóricas chamadas Bon Odori, oferendas de alimentos e a iluminação de lanternas flutuantes (tōrō nagashi) para guiar os espíritos de volta ao mundo espiritual. O Obon simboliza respeito aos antepassados e reforça os laços familiares.
Conceito de Divindade no Japão
No xintoísmo, o termo kami (神) refere-se a deidades, mas o conceito não é equivalente ao "Deus" do monoteísmo ocidental. Os kami podem ser espíritos, forças da natureza ou até mesmo ancestrais deificados. No Japão, não há uma distinção clara entre singular e plural, e o conceito de kami é neutro em termos de gênero. De forma semelhante, os budas (chamados de hotoke) têm sua própria categoria, distinta dos kami.
Divindades Cultuadas por Bruxas Japonesas
Durante as entrevistas com 16 bruxas e bruxos, Kawanishi identificou três formas principais de lidar com divindades:
• Adoração de deidades específicas: Algumas pessoas escolhem divindades ocidentais, como Hécate ou Inanna, enquanto outras optam por deidades japonesas, como Benzaiten e Ame-no-Uzume.
• Criação de novas deidades: Certos bruxos criam suas próprias divindades, como "Hazama-no-Megami", que representa o espaço liminar entre mundos.
• Divindades como conceitos: Alguns bruxos veem a divindade de forma abstrata, como uma força universal, em vez de uma entidade específica.
Perfis dos Bruxos Japoneses
Kawanishi destacou cinco perfis de bruxos entrevistados, cada um com uma abordagem única à bruxaria:
• Heith: Trabalha como tradutora e cartomante. Encarou a divindade inicialmente como feminina, mas depois como uma energia dual (positiva e negativa) que flui no universo.
• Sana: Uma vidente que vê espíritos desde criança. Ela se identifica com Hécate, associando-se ao poder feminino e à energia lunar.
• Lumi: Fundadora de Uphyca, uma comunidade de bruxas solo. Sua divindade é "Hazama-no-Megami", uma deusa que se manifesta em padrões de bordados que representam rituais.
• Kuruten: Ex-parceiro de negócios de Lumi, venera a baleia como divindade. Ele vê a baleia como uma força maior, pois, no passado, as baleias foram essenciais para a sobrevivência de vilarejos de pescadores.
• Kikuno: Criada em uma família protestante sul-coreana, ela passou a adorar Sayoko Yamaguchi, uma modelo japonesa, vendo-a como uma divindade feminina.
Discussão e Análise
O estudo identificou que as bruxas japonesas tendem a adotar divindades ocidentais, o que pode ser explicado pela influência de livros e professores ocidentais. Muitas delas veem as divindades como conceitos, uma perspectiva influenciada por mentores e pela forma como os japoneses experienciam o espiritual no cotidiano. Ao contrário da prática xintoísta, em que várias deidades têm funções distintas, as bruxas japonesas raramente atribuem propósitos específicos a diferentes deidades.
Além disso, a pesquisa sugere que os japoneses têm dificuldade em adotar o conceito ocidental de "fé" (que envolve crença e devoção a um ser superior) devido à visão de que os kami são entidades que "estão lá", mas não precisam ser veneradas de forma fervorosa.
Conclusão
A bruxaria ocidental no Japão se adapta às peculiaridades culturais locais. A ausência de uma percepção clara e uniforme de "divindade" no Japão permite uma flexibilidade maior na prática da bruxaria. Enquanto no Ocidente a bruxaria pode estar ligada a movimentos sociais ou ao feminismo, no Japão ela se conecta mais ao ocultismo, à arte, à cura e à terapia espiritual.
A falta de educação religiosa formal no Japão faz com que muitos japoneses encarem a espiritualidade de forma prática e não teórica, adotando conceitos de divindades com base em experiências pessoais. Para as bruxas japonesas, o conceito de divindade é amplamente influenciado por livros ocidentais, mentores e, em alguns casos, pelas experiências religiosas da família. Isso reforça a ideia de que a bruxaria ocidental no Japão é mais uma prática individual e criativa do que um movimento coletivo de resistência ou transformação social.
Para fazer lanternas flutuantes (tōrō nagashi), você precisará de alguns materiais simples e seguir os passos abaixo:
Materiais necessários
• Papel impermeável (ou papel de arroz tratado): para a parte externa da lanterna.
• Estrutura de madeira ou bambu: para dar suporte à lanterna.
• Velas pequenas (como velas de chá): para iluminar a lanterna.
• Fitas decorativas ou marcadores: para decorar e escrever mensagens ou nomes dos entes queridos.
Passo a Passo
1. Monte a estrutura: Faça um quadro de bambu ou madeira no formato de cubo para sustentar o papel.
2. Fixe o papel: Cole o papel nas laterais da estrutura. Certifique-se de que ele seja leve, mas resistente à umidade.
3. Decore e escreva: Escreva mensagens, orações ou o nome dos ancestrais que você deseja homenagear.
4. Adicione a vela: Coloque a vela no centro da base interna, garantindo que ela esteja segura e não caia.
5. Libere na água: Acenda a vela e libere a lanterna cuidadosamente sobre a água, geralmente em rios, lagos ou na costa do mar.
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