Bori - Mestra: Yá Patrícia Ty Oyá

Bori

Da fusão da palavra Bó, que em Ioruba significa oferenda, com Ori, que quer dizer cabeça, surge o termo Bori, que literalmente traduzido significa “ Oferenda à Cabeça”. Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode-se afirmar que o Bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação, sem a qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela iniciação ao sacerdócio. Sendo assim, quem deu Bori é (Iésè órìsà).

 1. Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu Ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido as suas próprias potencialidades. Odú é o caminho pelo qual se chega à plena realização de Orí, portanto não se pode cobiçar as conquistas dos outros. Cada um, como ensina Orunmilá – Ifá, deve ser grande no seu próprio caminho, pois, embora se escolha o Orí antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida.

 2. Exú, por exemplo, mostra-nos a encruzilhada, ou seja, revela que temos vários caminhos a escolher. Ponderar e escolher a trajetória mais adequada é a tarefa que cabe a cada Orí, por isso, o equilíbrio e a clareza são fundamentais na hora da decisão e é por intermédio do Bori que tudo é adquirido.

   3. Os mais antigos souberam que Ajalá é o Orixá funfun responsável pela criação de Orí. Desta forma, ensinaram-nos que Oxalá deve ser sempre evocado na cerimónia de Bori. Iemanjá é a mãe da individualidade, e por essa razão está diretamente relacionada com Orí, sendo imprescindível a sua participação no ritual.

 4. A própria cabeça é a síntese dos caminhos entrecruzados. A individualidade e a iniciação (que são únicas e acabam, muitas vezes, configurando-se como sinónimos) começam no Orí, que ao mesmo tempo aponta para as quatro direções.

 OJUORI – A TESTA

ICOCO ORI – A NUCA

OPA OTUM – O LADO DIREITO

OPA OSSI – O LADO ESQUERDO

 5. Desta mesma forma, a Terra também é dividida em quatro pontos: norte, sul, este e oeste; o centro é a referencia, logo, todas as pessoas se devem colocar como o centro do mundo, tendo à sua volta os quatro pontos cardeais: os caminhos a escolher e a seguir. A cabeça é uma síntese do mundo, com todas as possibilidades e contradições.

 6. Na África, Orí é considerado um Deus, aliás, o primeiro que deve ser cultuado, mas é também, juntamente com o sopro da vida (emi) e o organismo (ese), um conceito fundamental para compreender os rituais relacionados com a vida, como o Axexê (asesé). Nota-se a importância destes elementos, sobretudo o Orí, pelos Orikis com que são invocados.

 7. O Bori prepara a cabeça para que o Orixá se possa manifestar plenamente. Entre as oferendas que são feitas ao Orí algumas merecem menção especial.

 8. É o caso da galinha de Angola, chamada Etun ou Konkém no Candomblé; ela é o maior símbolo de individualização e representa a própria iniciação. A Etun é adoxu (adosú), ou seja, é feita nos mistérios do Orixá. Ela já nasce com Exú, por isso se relaciona com o começo e com o fim, com a vida e a morte, por isso está no Bori e no Axexê.

 9. O peixe representa as potencialidades, pois a imensidão do oceano é a sua casa e a liberdade o seu próprio caminho. As comidas brancas, principalmente os grãos, evocam fertilidade e fartura. Flores, que aguardam a germinação, e frutas, os produtos da flor germinada, simbolizam a fartura e a riqueza.

 10. O pombo branco é o maior símbolo do poder criador, portanto não pode faltar. A noz cola, isto é, o obi é sempre o primeiro alimento oferecido a Ori; é a boa semente que se planta e se espera que dê bons frutos.

 11. Todos os elementos que constituem a oferenda à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz, tranquilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade, mas cabe ao Orí de cada um eleger as prioridades e, uma vez cultuado como deve ser, proporciona-as aos seus filhos.

Nunca se esqueça: Orixá começa com Orí.

 A Importância do Ori

No candomblé, acredita-se que o ori é uma parte fundamental da identidade espiritual de cada pessoa. Ele é o elo entre o indivíduo e os orixás, e sua condição influencia diretamente a saúde, o equilíbrio emocional e o sucesso na vida. Um ori em desarmonia pode trazer confusão mental, doenças e desventuras, enquanto um ori bem cuidado pode proporcionar clareza, força e prosperidade.

 O Ritual do Bori

O bori é um ritual complexo e sagrado, realizado com o objetivo de harmonizar e fortalecer o ori do adepto. Ele pode ser realizado tanto como um rito preparatório antes de iniciações mais profundas no candomblé, quanto como uma cerimônia de manutenção regular ou em momentos de crise pessoal.

Preparação

A preparação para o bori envolve a seleção de oferendas específicas .Essas oferendas podem incluir alimentos, bebidas, ervas e outros itens simbólicos. O ritual é conduzido por um sacerdote ou sacerdotisa (babalorixá ou ialorixá), que possui o conhecimento necessário para realizar a cerimônia de forma correta e eficaz.

  Execução

Durante o bori, o adepto recebe diversas oferendas na cabeça, acompanhadas de orações e cânticos específicos. O ritual pode incluir banhos de ervas e outros procedimentos destinados a purificar e energizar o ori. O sacerdote ou sacerdotisa invoca a proteção dos orixás e pede por saúde, clareza mental e bem-estar para o adepto.

Significado e Benefícios

O bori não é apenas um ato simbólico, mas um processo profundo de conexão espiritual e autocuidado. Ele promove a introspecção e a reconexão do indivíduo com sua essência interior e com as forças divinas que guiam sua vida. Os benefícios do bori incluem maior clareza mental, estabilidade emocional, proteção espiritual e uma sensação geral de equilíbrio e harmonia.

Conclusão

O bori é uma das práticas mais significativas no candomblé, refletindo a importância do ori como centro da identidade espiritual do ser humano. Este ritual, carregado de simbolismo e devoção, é um testemunho da riqueza cultural e espiritual das tradições afro-brasileiras. Ao alimentar e fortalecer o ori, os praticantes do candomblé buscam não apenas a proteção dos orixás, mas também um caminho de autoconhecimento e equilíbrio que os conduz a uma vida mais plena e harmoniosa.