Trindade Celestial - Suzano. - Neófita: Cris.

 


Introdução:

Como visto na última aula, Amaterasu (Amaterasu-ōmikami) , a Deusa do Sol , é uma das divindades centrais da mitologia japonesa e do xintoísmo. Dentre os Kamis da Trindade Celestial  (Amaterasu-Ōmikami, Tsukuyomi-no-Mikoto e Susanoo-no-Mikoto) , o mais próximo de Amaterasu em termos de parentesco e importância é seu irmão mais novo Susanoo.


Mas quem é Susanoo-no-Mikoto?

Susanoo (須佐之男命) é o Deus do Mar e das Tempestades no Xintoísmo. Ele é frequentemente associado a fenômenos naturais, especialmente aqueles relacionados ao mar e ao clima.  É o irmão mais novo de Amaterasu (Deusa do Sol) e Tsukoyomi (Deus da Lua), nascido do nariz de Izanagi durante suas purificações. Ele é conhecido por seu comportamento travesso e, às vezes, destrutivo, o que lhe confere uma reputação de trapaceiro, mas também é heroico e benéfico.  

Como deus do mar, Susanoo é considerado o governante das águas que cercam as ilhas do Japão. Ele é visto como uma divindade que controla as marés e as correntes marítimas, influenciando a pesca e a navegação.  É também o deus das tempestades, simbolizando tanto a destruição quanto a renovação. Suas tempestades podem ser devastadoras, mas também são vistas como uma forma de purificação e renovação da terra.

Principais Mitos

1. A fúria contra Amaterasu  (segundo o Kojiki e o Nihon Shoki)

“Susanoo destrói plantações, arreda excrementos e até sacrifica um cavalo na autoridade de Amaterasu, o que leva ela a se refugiar na caverna celestial, mergulhando o mundo em escuridão até ser atraída de volta por uma dança ritual.”

Mas o que causou tal fúria? Susanoo-no-Mikoto ficou furioso contra Amaterasu por uma combinação complexa de ciúmes, desconfiança mútua e ressentimento após o ritual de provação ( ukehi ). Quando Susanoo foi chamado por seu pai Izanagi e recebeu a ordem de governar os mares, ele recusou a função e ficou em prantos. Izanagi então o expulsou do Céu. Antes de partir, Susanoo quis se despedir de sua irmã, Amaterasu , no céu ( Takamagahara ).

No entanto, Amaterasu suspeitou que ele tinha intenções hostis e veio em armas ao encontro dele.

Para provar que suas intenções eram pacíficas, Amaterasu propôs o ritual de provação ( Ukehi ) como uma forma de verificar se ele falava a verdade:


Ela disse: “Se de sua espada nascerem filhos bons, isso provará que você não tem más intenções. E se dos meus magatamas nascerem filhos maus, então você está mentindo.”

Ukehi é um ritual xintoísta divinatório, onde: Eles mastigam os objetos um do outro (espada e magatamas) e sopram a respiração para criar deuses.  Cada geração de filhos (cinco homens e três mulheres) deveria refletir o caráter do outro. 

Susanoo reivindicou vitória, dizendo que os cinco deuses (machos) vieram dos magatamas de Amaterasu . Amaterasu contradisse, dizendo que eles nasceram a partir de seus próprios pertences, portanto a vitória era dela. A frustração de Susanoo por se sentir injustiçado foi o estopim para os atos de fúria que se seguiram. Irritado, Susanoo iniciou uma onda de destruição em Takamagahara . Arrancou as cercas e irrigações dos campos de arroz. Difamou o palácio de sua irmã com fezes espalhadas. Depenou um cavalo celestial e o lançou no celeiro de tecelagem, matando uma criada — supostamente por choque ou acidente com o tear. Horrorizada pelos atos de Susanoo, Amaterasu se sentiu insegura e entristecida, refugiando-se na caverna Ama no Iwayado, apagando o sol e mergulhando o mundo na escuridão. Seus atos foram julgados pelos outros deuses — a kana kami (o conselho celeste) — que decidiram exilá lo definitivamente do reino dos céus .

2. Banimento e vitória sobre Yamata‐no‐Orochi

Após seu banimento do céu, Susanoo desceu à região de Izumo, onde encontrou um ancião e sua esposa, deus e deusa da terra, lamentando a perda de sete de suas oito filhas devoradas pelo dragão Yamata‑no‑Orochi — restava apenas a jovem Kushinadahime .  Ele se oferece para derrotar o monstro em troca da mão de Kushinadahime , que aceita a proposta. Para protegê-la, a transforma num pente e o prende ao seu cabelo.  O plano foi atrair o Dragão com um vinho e engana-lo. Com o monstro embriagado, Susanoo emerge e decapita todas as oito cabeças. Ao cortar a última cauda, sua espada antiga quebra ao impactar algo duro: era a espada lendária, chamada Ame‑no‑Murakumo‑no‑Tsurug i, posteriormente renomeada Kusanagi‑no‑Tsurugi . Retirou a espada da cauda do dragão e, para simbolizar reconciliação com sua irmã, ofereceu-a a Amaterasu . Susanoo se casa com Kushinadahime e funda seu palácio em Suga (Izumo) . Ele então compôs um poema tanka que é considerado o primeiro waka da história japonesa.  Sua esposa e ele geram filhos que dão início a linhagem divina de Izumo, incluindo Ōkuninush i.

Culto e festivais

Susanoo-no-Mikoto é amplamente venerado em santuários como o Kumano Taisha , em Matsue (Shimane) , e o Susa Shrine , em Izumo , ambos localizados na região de Izumo e em áreas costeiras do Japão. O Kumano Taisha é um importante centro de culto, associado ao fogo por meio da cerimônia Sankasai , e profundamente ligado à figura de Susanoo . Já o Susa Shrine é dedicado não apenas a ele, mas também a Kushinadahime e aos pais dela, sendo parte essencial do ciclo mitológico do combate contra a serpente Yamata-no-Orochi . Em festivais como o Gion Matsuri , realizado em Kyoto e outras regiões, Susanoo é sincretizado com Gozu Tenno , assumindo o papel de divindade protetora contra pestes e epidemias, destacando seu aspecto purificador. As oferendas tradicionais incluem arroz e saquê, e as celebrações envolvem procissões, danças e rituais destinados a afastar males e impurezas.

Símbolos e influências

Susanoo-no-Mikoto está profundamente ligado a elementos da natureza, como tempestades, mar e relâmpagos, mas também a aspectos de fertilidade e crescimento, como a vegetação e a agricultura. Seu caráter ambivalente é uma de suas marcas: embora muitas vezes violento e caótico, ele também atua como uma figura prestativa e civilizadora. A espada Kusanagi, obtida após derrotar o dragão Yamata-no-Orochi , simboliza não apenas seu poder, mas também a legitimidade imperial e o domínio sobre as forças naturais. Susanoo é amplamente retratado em diversas formas de arte — de pinturas e esculturas a animes — geralmente associado a mares revoltos e tempestades, representando sua força indomável. Na cultura pop contemporânea, é uma figura recorrente em animes, mangás e jogos, onde sua imagem costuma estar ligada a temas de combate, superação e coragem, refletindo sua natureza heroica e complexa.

Arte popular Japonesa

O mito de Susanoo-no-Mikoto e sua vitória sobre o Yamata-no-Orochi tem forte repercussão na arte popular japonesa e na cultura pop, sendo amplamente representado em diferentes mídias ao longo dos séculos. Na arte tradicional, destaca-se o ukiyo-e e o teatro kabuki , com artistas como Utagawa Kuniyoshi e Chikanobu Toyohara imortalizando Susanoo em gravuras heroicas, enfrentando o temível dragão. Na pintura do período Meiji , Kawanabe Kyōsai retratou uma cena dramática do confronto durante uma tempestade, obra hoje preservada no British Museum. No campo das artes performáticas, o teatro ritual Iwami Kagura , típico da região de Shimane , encena esse duelo como uma de suas peças mais populares, enquanto festivais locais em Matsue celebram a lenda com barcos-dragão de oito cabeças. O mito também chegou às telas por meio da animação, como no filme Wanpaku Ōji no Orochi Taiji (1963) , da Toei , que reconta diretamente a história e é considerado um marco no anime, além de outras adaptações como The Little Prince and the Eight-Headed Dragon e produções de tokusatsu, que continuam a renovar a presença de Susanoo na cultura contemporânea.

 Manga, Anime, Videogames e Cultura Pop

O mito de Susanoo-no-Mikoto e sua batalha contra Yamata-no-Orochi tem grande presença na cultura pop japonesa, especialmente em animes e videogames. Em Naruto , tanto a técnica Susanoo quanto o vilão Orochimaru são referências diretas ao mito, com a cena em que Itachi derrota Orochimaru usando Susanoo evocando claramente o confronto clássico — algo que muitos fãs notaram e celebram como exemplo de mitologia incorporada à narrativa. Além disso, obras como One Piece, Blue Seed, Shaman King, Digimon, Yu-Gi-Oh!, Pokémon (com criaturas como Orochimon e Pomdorochi) e Golden Sun II apresentam versões adaptadas do dragão ou da lendária espada Kusanagi. No universo dos jogos, Fate/Grand Order traz Susanoo como personagem jogável, conectando o mito a um cenário moderno, enquanto o jogo Ōkami (2006) coloca Orochi como o principal vilão, com Susanoo desempenhando um papel central no enredo. Em Smite , Susanoo aparece como deus jogável, incorporando suas habilidades de tempestade, e outros títulos como Nioh, Warriors Orochi, Shin Megami Tensei, Dragon Quest III e The King of Fighters também se inspiram diretamente nos elementos desse mito ancestral.

 Por que esse mito ressoa tanto?

Arquetípico: o herói enfrenta o caos (dragão) e restaura a ordem — tema universal e poderoso.

Elementos visuais fortes: oito cabeças, espada mítica, tempestade — ideal para estética visual intensa.

Tradição viva : a combinação entre ritual, iconografia religiosa e narrativa o mantém relevante em todos os níveis da cultura japonesa.

Conclusão:

A história de Susanoo-no-Mikoto , especialmente sua relação conturbada com sua irmã Amaterasu , revela uma profunda dimensão humana dentro da mitologia japonesa. Após provocar a ira de Amaterasu e mergulhar o mundo na escuridão, Susanoo busca redenção através de atos de reconciliação que trazem a deusa de volta à luz. Essa narrativa destaca temas como a importância da família, a possibilidade de perdão e a capacidade de transformação mesmo após falhas graves. Mais do que um deus das tempestades, Susanoo simboliza a dualidade entre destruição e redenção, tornando-se um reflexo de nossos próprios conflitos e superações. Sua trajetória ressoa como uma lição atemporal sobre equilíbrio, esperança e a busca pela harmonia em meio ao caos.

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