Véus Abertos: O Chamado Mediúnico e a Arte Mágica - Mestra: Akane.

 

Uma jornada entre mundos através da mediunidade ritualística
Bruxaria Tradicional e Contemporânea:
Na bruxaria (especialmente nas formas tradicionais, como a bruxaria inglesa e a Wicca iniciática), o "médium" nem sempre é nomeado assim, mas sua função é reconhecida como ponte entre mundos. O papel mediúnico surge nos rituais de transe oracular, comunicação com ancestrais, espíritos familiares e deuses.
"A bruxa é, por natureza, alguém que atravessa os mundos. [...] Nos antigos ritos, era através da possessão divina, do transe ou da inspiração que se dava a palavra do espírito."
— Janet e Stewart Farrar, "A Deusa Tríplice"
Na prática ritualística da bruxaria, o médium é aquele que empresta o corpo ou a mente para que forças espirituais possam se manifestar, como no Drawing Down the Moon (“Atrair a Deusa”), onde a Sacerdotisa se torna veículo da Deusa.
Magia Cerimonial:
Já na magia cerimonial, o conceito é mais técnico e se refere à capacidade do magista de entrar em estados alterados de consciência controlados para permitir a manifestação de inteligências espirituais.
“A operação da magia é sempre realizada por meio da mudança da consciência. O verdadeiro mago é aquele que regula o movimento entre os planos e invoca inteligências de forma controlada.”
— Dion Fortune, "Magia Cerimonial Prática"
O "médium", nesse caso, não é passivo como no espiritismo clássico, mas atua como canal consciente e diretor do ritual. Ele evoca, invoca ou canaliza conforme a vontade, com uso de selos, sigilos, vestimentas, ferramentas mágicas e círculo de proteção.
Diferença entre canalização espiritual, incorporação e evocação mágica
Vamos aos termos com definições distintas, mas muitas vezes confundidas:
Canalização espiritual (channeling)
Definição: Processo em que o praticante recebe mensagens de uma inteligência espiritual por meio de inspiração, intuição ou fala sem que haja perda de consciência.
O médium está consciente e transmite a informação recebida, como num estado de "escuta ampliada".
Comum em práticas de nova era, bruxaria moderna, magia angélica.
“O canal é o fio da consciência que une as realidades. Quanto mais puro, mais clara será a comunicação.”
— Sanaya Roman, "Opening to Channel"
Incorporação
Definição: Quando uma entidade (espírito, ancestral, deidade) ocupa parcial ou totalmente o corpo do médium.
O médium pode ficar inconsciente ou semi-consciente. Comum em tradições afro-diaspóricas (Umbanda, Candomblé), bruxaria extática e certos rituais de possessão cerimonial (como Drawing Down the Moon).
“A Deusa entra na Sacerdotisa, fala por sua boca e se move por seus membros. A mente da bruxa se afasta como uma névoa.”
— Doreen Valiente, "Witchcraft for Tomorrow"
Evocação mágica
Definição: Técnica ritual de chamar entidades espirituais externas para manifestar-se num espaço definido, como um triângulo de evocação, sem permitir que entrem no corpo do magista. O magista permanece no comando e usa nomes divinos, selos e instrumentos (espada, bastão, círculo, incenso). Comum na tradição da Goécia, Teurgia, Hermetismo e Magia Planetária.

O Papel do Médium nas Tradições Mágicas
O médium como sacerdote, oráculo e condutor de forças
Em várias tradições mágicas, o médium é mais que um receptor passivo — ele atua como sacerdote, oráculo e canal entre mundos, com funções litúrgicas, rituais e espirituais fundamentais. Essa função aparece com roupagens diferentes em cada sistema.

The Book of Abramelin:  Neste grimório, o médium é o próprio magista que, após um processo de purificação espiritual, estabelece contato direto com seu Anjo Guardião. Só depois disso ele pode comandar outros espíritos. A mediunidade aqui é uma forma de canalização elevada, onde o praticante busca comunhão com uma inteligência superior para obter autoridade mágica.
Goetia – The Lesser Key of Solomon: Na Goetia, o médium atua como evocador consciente: ele chama espíritos para se manifestarem fora de seu corpo, mantendo controle total sobre o ritual. A prática envolve selos, nomes divinos e um triângulo de manifestação. Não há incorporação — o médium comanda, mas não se deixa possuir.
A Deusa Tríplice – Janet & Stewart Farrar : Neste livro da tradição Wicca, o médium é visto como sacerdote ou sacerdotisa que serve de veículo para a presença de uma deidade, como na prática de "Atrair a Deusa". Há uma forma de incorporação ritual onde a divindade fala e age através da pessoa, que entra em estado alterado de consciência, mas sem perder o controle.
O Livro das Sombras – Gerald Gardner: Aqui, o médium é a bruxa que se conecta com espíritos da natureza, ancestrais e forças elementais por meio de canto, dança e transe. A mediunidade é extática e espontânea, usada em rituais sazonais e mágicos. Não se fala em incorporação no sentido rígido, mas sim em canalização sensitiva e contato direto com o invisível.
Tipos de Mediunidade na Bruxaria e Magia Cerimonial
Mediunidade oracular: Envolve entrar em transe para canalizar mensagens de entidades ou deuses, funcionando como oráculo. Comum em rituais com divindades ou ancestrais.
Mediunidade evocativa: O praticante invoca ou incorpora uma entidade durante o ritual. Pode ser uma incorporação parcial (com controle) ou total (estado de possessão temporária).
Psicografia ritual: Também chamada de escrita automática, é usada para registrar mensagens ditadas por entidades durante estados alterados de consciência ou invocação mágica.
Vidência mágica: Percepção de imagens, símbolos ou mensagens através de espelhos negros, bolas de cristal, fumaça, chamas ou água. Forma sensitiva e visual de mediunidade.
Mediunidade elemental e natural: Comunicação com espíritos da natureza, elementais (gnomos, salamandras, silfos, ondinas) e forças sutis dos quatro elementos, geralmente através de práticas ao ar livre, oferendas e estados de conexão energética.
Para aprofundar a mediunidade dentro da magia ritual, é essencial cultivar a purificação do corpo e da mente por meio de banhos mágicos, meditação e respiração consciente. A criação de um espaço protegido com círculos mágicos, selos e incensos fortalece a segurança espiritual durante os rituais. O uso de ferramentas consagradas, como espelhos negros, bastões e cristais, facilita a conexão com o invisível. Práticas que induzem estados alterados de consciência — como mantras, tambor, dança e ervas sagradas — abrem os canais mediúnicos de forma gradual. Com disciplina, o médium se torna um elo firme entre os mundos, capaz de canalizar, invocar e traduzir mensagens com clareza e poder.
Mediunidade e magia, quando unidas com consciência, tornam o praticante um ponto de encontro entre mundos. Ser médium é mais do que sentir — é saber agir com sabedoria diante do invisível. É ouvir sem se perder, canalizar sem se anular, comandar sem profanar. Ao abrir os véus, não buscamos apenas espíritos, mas também a verdade oculta em nós mesmos. O verdadeiro poder nasce do equilíbrio entre entrega, proteção e propósito.
Sugestões de Bibliografia Complementar
Summoning Spirits – Konstantinos
Bruxaria Natural – Arin Murphy-Hiscock
Magia Prática – Franz Bardon
The Witch’s Book of Spirits – Devin Hunter
O Livro dos Médiuns – Allan Kardec
Psychic Witch – Mat Auryn


Referências:
The Book of Abramelin
Goetia - The Lesser Key of Solomon
A Deusa Tríplice – Janet & Stewart Farrar
O Livro das Sombras – Gerald Gardner


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