Mundo Espiritual Coreano. Neófita: Cris.

 

Mundo Espiritual Coreano

O Mundo Espiritual Coreano é um universo complexo e multifacetado, moldado por uma rica interação de crenças ancestrais, principalmente o xamanismo (Muism) , e a influência profunda de religiões como o budismo e, em menor grau, o confucionismo . Não existe uma única "fonte real" que o descreva, mas sim um conjunto de tradições, rituais e filosofias que se entrelaçam.

As Três Grandes Influências

O entendimento do pós-vida e do mundo espiritual na Coreia é uma fusão de:

1. Xamanismo Coreano (Muism - 무교)

O xamanismo é a religião indígena e mais antiga da Coreia, com raízes profundas na vida cotidiana do povo.

Natureza dos Espíritos: No xamanismo, o mundo está repleto de espíritos (geralmente chamados de shin ou yeong ), que habitam a natureza (montanhas, rios, árvores), casas e até mesmo objetos. Esses espíritos podem ser benevolentes ou malévolos, e influenciam diretamente a vida humana, trazendo sorte ou infortúnio.

Papel dos Mudang (Xamãs): Os mudang (mulheres xamãs) e baksu (homens xamãs) atuam como intermediários entre o mundo dos vivos e o mundo espiritual. Através de rituais complexos ( gut ), eles invocam espíritos, oferecem sacrifícios, realizam exorcismos, curam doenças e buscam conselhos para os vivos.

Alma e Pós-Vida Xamânica: A visão xamânica do pós-vida tende a ser mais prática e focada no benefício material e na paz no mundo presente, em vez de uma salvação da alma em um paraíso distante. A alma ( hon ) é vista como algo que pode permanecer no mundo dos vivos após a morte, tornando-se um gwisin (fantasma) se não conseguir transitar. Rituais são realizados para garantir que a alma descanse em paz e não cause problemas aos vivos.

Deuses e Entidades: O panteão xamânico é vasto e inclui deuses da montanha ( sanshin ), deuses do céu ( Haneullim ), espíritos ancestrais, e espíritos de doenças.

2. Budismo

O budismo chegou à Coreia por volta do século IV e teve um impacto monumental na sua cosmologia, especialmente na concepção do submundo e do julgamento das almas.

Cosmologia Budista: O budismo introduziu a ideia de seis reinos de existência ( Samsara ), onde os seres renascem de acordo com seu karma: deuses, asuras ( titãs ), humanos, animais, espíritos famintos (preta) e infernos. O objetivo final é escapar desse ciclo de renascimento através do Nirvana ou da iluminação.

Submundo (Jiogye - 지옥계) e Julgamento: A concepção do inferno budista coreano, o Jiogye , não é um lugar de punição eterna, mas sim um espaço onde as almas purgam seu mau karma antes de renascer. É governado por Dez Reis do Submundo ( Sim Dae Wang - 십대왕 ), sendo o mais proeminente o Rei Yeomna ( Yeomna Daewang - 염라대왕 ), o juiz supremo das almas. Cada rei preside sobre um dos "infernos" ou "câmaras de julgamento".

Jeoseung Saja (저승사자): Como discutido anteriormente, o Jeoseung Saja é o mensageiro do submundo que escolta as almas para o Jiogye para serem julgadas. Eles são burocratas do reino de Yeomna Daewang.

Ritos dos 49 Dias (Sasipguje - 사십구재): Uma cerimônia fúnebre budista crucial que dura 49 dias após a morte. Acredita-se que, durante esse período, a alma passa por diferentes julgamentos no submundo antes de seu destino final (renascimento). Ritos e orações são realizados para ajudar a alma a ter um bom renascimento.

3. Confucionismo

Embora o confucionismo seja mais uma filosofia ética e social do que uma religião com um mundo espiritual detalhado, ele influenciou a maneira como os coreanos interagiam com o conceito de morte e ancestralidade.

Piedade Filial (Hyo - 효): O confucionismo enfatiza o profundo respeito e dever para com os pais e ancestrais ( hyo ). Isso se traduz em elaborados ritos memoriais ancestrais ( Jesa - 제사 ), que são realizados regularmente para homenagear e nutrir os espíritos dos falecidos. Embora o confucionismo não especifique a natureza exata do pós-vida, ele reforça a conexão contínua entre os vivos e os mortos.

Ordem e Hierarquia: A influência confucionista também pode ser vista na estrutura hierárquica do submundo budista, com seus reis e mensageiros agindo como uma burocracia governamental.

Conceitos Chave Adicionais

Cheonsanggye (천상계): O Reino Celestial ou o mundo dos deuses, frequentemente associado ao céu budista (como as "Residências Puras" para aqueles perto da iluminação) ou ao reino de Haneullim no xamanismo.

Gwisin (귀신): Fantasmas, as almas de falecidos que não conseguiram fazer a transição para o pós-vida e permanecem presas no mundo dos vivos, muitas vezes devido a mortes injustas, rancor ou tarefas inacabadas.

Samsara (윤회): O ciclo de nascimento, morte e renascimento, uma crença fundamental no budismo.

Karma (업): O princípio de que as ações de uma pessoa (boas ou más) determinam seu destino em vidas futuras.

Ritos Funerários e o Caminho da Alma

Os ritos funerários coreanos são uma mistura dessas influências e são essenciais para garantir que a alma faça uma transição pacífica para o pós-vida:

Velório (Jangnye - 장례): Geralmente dura três dias. Os familiares e amigos se reúnem para prestar homenagens ao falecido e à família.

Sepultamento/Cremação: Tradicionalmente, o sepultamento era mais comum, mas a cremação tem crescido em popularidade devido à falta de espaço.

Cerimônias Pós-Morte: Além do Sasipguje budista, os Jesa (ritos ancestrais confucionistas) são realizados em datas importantes (aniversários de morte, feriados) para manter a conexão e o respeito pelos ancestrais.

O mundo espiritual coreano é, portanto, um reflexo da complexa história e das múltiplas camadas de crenças que moldaram a cultura coreana ao longo dos milênios. É um sistema que busca tanto entender o destino da alma após a morte quanto garantir a harmonia entre os vivos e os espíritos dos falecidos.

Cosmovisão coreana: os três mundos ( Sangyeok, Jungyeok, Hanyeok )

A cosmovisão coreana tradicional, especialmente no que se refere aos "três mundos", é um conceito profundamente enraizado no xamanismo coreano ( Muism ) e influenciado pelo budismo. Embora os termos exatos Sangyeok (상역), Jungyeok (중역) e Hanyeok (하역) não sejam universalmente reconhecidos como a principal classificação da cosmovisão coreana em todas as fontes acadêmicas ocidentais, eles parecem se referir a uma divisão vertical dos reinos cósmicos.

Vamos explorar a cosmovisão coreana sob uma perspectiva tridimensional comum em muitas culturas orientais, incluindo a coreana, e como esses termos podem se encaixar:

A Cosmovisão Coreana dos Três Mundos

A cosmovisão coreana enxerga o universo como um sistema interconectado, onde os domínios do divino, humano e espiritual se relacionam constantemente. Essa estrutura trinitária é uma característica marcante.

1. Sangyeok (상역) – O Mundo Superior/Céu

Representação: Este é o reino celestial, a morada dos deuses celestiais e dos seres divinos de maior poder. No xamanismo coreano, o deus supremo do céu é frequentemente referido como Haneullim (하느님) ou Cheonjiwang (천지왕) . É o domínio da ordem cósmica, da criação e da benevolência que influencia o mundo humano.

* * _ Influências:_ *

o Xamanismo: É a fonte de onde vêm as bênçãos, o clima favorável para as colheitas e a prosperidade. Os mudang (xamãs) se comunicam com os espíritos deste reino para buscar orientação e proteção.

o Budismo: Corresponde aos reinos celestiais (deva-loka), onde deuses e seres iluminados residem temporariamente antes de completar seu ciclo de renascimentos. Não é o Nirvana final, mas um reino de grande bem-estar.

Significado: Simboliza o ideal, o transcendente e o poder controlador sobre o destino.

2. Jungyeok (중역) – O Mundo Médio/Humano

Representação: Este é o mundo dos seres humanos, onde a vida é vivida, as culturas são formadas e as interações sociais ocorrem. É o reino da experiência, do karma e do livre arbítrio.

Conexão: O mundo humano não está isolado. Ele é constantemente influenciado pelo mundo superior (através de bênçãos, ordens divinas, destino) e pelo mundo inferior (através de espíritos, fantasmas e o processo de renascimento).

Influências:

o Xamanismo: Os mudang atuam neste mundo para mediar as relações entre humanos e espíritos, resolvendo problemas causados por gwisin (fantasmas) ou buscando favores dos deuses.

o Confucionismo: Foca na moralidade, ética, hierarquia social e nos rituais de piedade filial ( hyo ), que conectam os vivos aos ancestrais.

o Budismo: Ações realizadas neste mundo ( o karma ) determinam o renascimento nos seis reinos de existência. A vida humana é vista como uma oportunidade para buscar a iluminação.

Significado: Representa a existência, a ação e a interação entre o material e o espiritual.

3. Hanyeok (하역) – O Mundo Inferior/Submundo

Representação: Este é o reino do submundo ou inferno (Jiogye no budismo), a morada das almas dos falecidos e de vários espíritos. É para onde as almas são guiadas após a morte para serem julgadas e processadas antes de seu próximo renascimento ou destino final.

Influências:

o Budismo: Deu a forma mais estruturada ao submundo coreano, com o Rei Yeomna e os Dez Reis do Submundo que julgam as almas. Os Jeoseung Saja (ceifadores) são os mensageiros que trazem as almas para este reino.

o Xamanismo: Contribui com a ideia de que almas de falecidos podem se tornar gwisin (fantasmas) se não encontrarem descanso, permanecendo neste domínio ou no mundo médio, e precisam de rituais para serem pacificadas e enviadas para o pós-vida apropriado.

Significado: Simboliza a morte, o julgamento, a purgação e o ciclo de renascimento.

A Interconexão e Fluxo

A cosmovisão coreana enfatiza a interconexão e o fluxo constante entre esses três mundos. Não são compartimentos estanques, mas sim reinos que se influenciam mutuamente:

Rituais: As práticas xamânicas ( gut ) e budistas (como o Sasipguje ) e confucionistas ( Jesa ) são realizadas no mundo médio para influenciar os destinos e o bem-estar dos seres nos outros mundos.

Influência Recíproca: Espíritos do mundo inferior podem afetar os vivos (como gwisin ), e os deuses do mundo superior podem intervir na vida humana.

Essa estrutura tridimensional oferece uma lente abrangente através da qual os coreanos tradicionalmente entendem a existência, o destino, a morte e a relação entre o divino, o humano e o espiritual.

O Mundo Espiritual Coreano é uma tapeçaria rica e complexa, habilmente tecida pela interação do Xamanismo (Muism ), que estabelece suas raízes ancestrais, a estrutura profunda do Budismo , que molda a visão do pós-vida e da justiça kármica, e a ética social do Confucionismo , que enfatiza a piedade filial e a conexão contínua entre vivos e mortos. Essa fusão singular não só define uma cosmovisão tridimensional abrangente, composta pelos reinos Sangyeok (celestial), Jungyeok (humano) e Hanyeok (inferior) , mas também detalha a natureza multifacetada da alma, dividida em Hun (espiritual), Baek (corporal) , e a presença dos Gwisin (espíritos errantes) . A morte, nesse contexto, é muito mais do que um fim; é uma transição ordenada e um julgamento cármico implacável. Através de rituais intrincados e da intervenção de figuras cruciais como os Jeoseung Saja (mensageiros do submundo) e o Rei Yeomna , a cultura coreana estabelece um caminho para o descanso e o renascimento, buscando incansavelmente a harmonia entre o mundo dos vivos e o dos mortos, garantindo que as ações de cada indivíduo moldem seu destino no ciclo contínuo da existência.

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