A Relação do Jeoseung Saja com a bruxaria Moderna - Por Neófita Cris.

 



A relação do Jeoseung Saja com a bruxaria coreana moderna é um tópico fascinante que exige uma compreensão da complexidade do xamanismo coreano ( Muism ) contemporâneo. É importante notar que o termo "bruxaria" pode não ser o mais preciso para descrever o Muism , que é uma religião e prática espiritual tradicional com uma história milenar, e não necessariamente alinhada com as conotações ocidentais de "bruxaria". No entanto, se interpretarmos "bruxaria coreana moderna" como a prática contemporânea do xamanismo coreano e seus praticantes ( mudang e baksu ), podemos entender a conexão.
O Jeoseung Saja no Xamanismo Coreano (Muism)
No xamanismo coreano tradicional e moderno, o Jeoseung Saja é uma figura conhecida e respeitada, embora temida.
 • Mensageiros e Guias: Para os mudang, o Jeoseung Saja não é apenas uma figura mitológica, mas uma entidade espiritual com um papel ativo no processo da morte. Eles são os guias psicopompos que levam as almas dos falecidos para o submundo para serem julgadas.
* Rituais Fúnebres e de Passagem: Em rituais xamânicos ( gut ) relacionados à morte, como aqueles realizados para ajudar uma alma a fazer uma transição pacífica ou para apaziguar um gwisin (fantasma errante), o Jeoseung Saja pode ser invocado ou referenciado. O objetivo não é "controlá-los", mas sim reconhecer seu papel e garantir que a alma do falecido seja entregue adequadamente.
Durante um gut para os mortos, é comum que oferendas de comida e bebida sejam preparadas especificamente para o Jeoseung Saja. Isso é feito para honrar e apaziguar esses mensageiros, assegurando que eles tratem a alma do falecido com cuidado e a guiem sem problemas para o pós-vida. Acredita-se que maltratar o Jeoseung Saja poderia trazer infortúnio para o falecido em sua jornada.
* Mediadores, Não Manipuladores: Os mudang atuam como mediadores entre o mundo humano e o mundo espiritual. Eles não "controlam" o Jeoseung Saja no sentido de forçá-los a fazer algo contra sua natureza ou propósito. Em vez disso, eles buscam cooperação e respeito para garantir que a ordem cósmica da morte seja mantida e que as almas dos mortos descansem em paz.
* Entendimento da Morte: A presença do Jeoseung Saja na prática xamânica moderna reforça a crença na inevitabilidade da morte e na existência de um sistema organizado para o pós-vida, onde a justiça cármica (influência budista) desempenha um papel fundamental.
Representações Modernas e a "Bruxaria"
A popularidade do Jeoseung Saja em dramas e filmes coreanos (como " Goblin " e " Hotel Del Luna ") trouxe a figura para um público global, muitas vezes com interpretações mais carismáticas e humanizadas. Embora essas representações não sejam diretamente sobre "bruxaria" ou Muism , elas moldam a percepção pública e podem influenciar a forma como os próprios praticantes modernos interagem ou pensam sobre essas entidades.
É importante distinguir entre:
* • Mitos e Folclore: Histórias transmitidas ao longo do tempo.
* • Prática Religiosa/Espiritual (Muism): Os rituais e crenças dos mudang.
* • Ficção Popular: Dramas, filmes, webtoons que reinterpretam esses elementos para entretenimento.
Na prática real da bruxaria coreana moderna (xamanismo), o Jeoseung Saja continua sendo uma figura de autoridade no submundo. Os mudang o reconhecem e o respeitam, especialmente em rituais que lidam com a morte e a transição da alma, mas não como uma entidade que pode ser facilmente manipulada ou comandada para fins pessoais, como talvez se pensaria em algumas vertentes da bruxaria ocidental. Ele é, antes, um executor de um propósito maior no ciclo da vida e da morte.
A discussão sobre "bruxaria coreana" é complexa, pois o xamanismo é uma prática enraizada na cura, adivinhação e intermediação espiritual, focada na harmonia entre os mundos, e não necessariamente em feitiçaria no sentido ocidental.
A figura do J eoseung Saja na bruxaria coreana moderna, que é mais precisamente o xamanismo coreano contemporâneo ( Muism ), é utilizada de forma simbólica e em rituais específicos de transição e encerramento, mas não como uma entidade a ser controlada para "feitiços de corte" no sentido ocidental.
Uso Simbólico em Rituais de Corte ou Encerramento
Embora a pesquisa específica sobre "feitiços de corte" ocidentais que usem o Jeoseung Saja seja limitada nas fontes acadêmicas sobre Muism , podemos inferir seu uso simbólico em rituais que visam:
* 1 - Encerramento de um Ciclo de Sofrimento: Se uma pessoa está sofrendo de azar contínuo, doença crônica ou problemas persistentes, um gut (ritual xamânico) pode ser realizado para "cortar" essa cadeia de infortúnios. O Jeoseung Saja , nesse contexto, pode ser invocado simbolicamente como a entidade que leva embora a má sorte ou a energia negativa, finalizando esse ciclo e abrindo caminho para algo novo.
* 2 - Libertação de um Espírito Errante (Gwisin): Quando um gwisin ( fantasma ) está assombrando ou causando problemas, rituais específicos são realizados para apaziguar essa alma e ajudá-la a finalmente transitar para o pós-vida. O Jeoseung Saja é crucial nesse processo, pois é ele quem guia o gwisin para longe do mundo dos vivos, encerrando sua presença indesejada. Neste caso, o "corte" é o da ligação do gwisin com o plano terrestre.
* 3 - Separação de Vínculos Malignos: Se uma pessoa está presa a um relacionamento tóxico (não necessariamente romântico, mas também de amizade, família, ou negócios) que está causando grande dano, um mudang pode realizar um ritual para "cortar os laços" energéticos negativos. O Jeoseung Saja , como o ceifador, pode ser simbolicamente invocado para finalizar essa conexão prejudicial, trazendo um encerramento e permitindo que a pessoa siga em frente. Ele representa a separação definitiva.
* 4 - Limpeza e Purificação Profunda: Em rituais de purificação intensa, onde se busca remover influências negativas persistentes ou maldições, o Jeoseung Saja pode ser usado como um símbolo da remoção completa e final do que é indesejado, levando-o para longe do reino dos vivos.
Considerações Importantes
 Contexto Cultural: É crucial entender que essas práticas não se alinham diretamente com a ideia ocidental de "feitiços de corte" para manipular eventos. No Muism, a intervenção espiritual é geralmente focada em restaurar a harmonia e o equilíbrio e em apaziguar as forças espirituais, em vez de forçá-las a cumprir a vontade do praticante de forma direta e coercitiva.
* Papel do Mudang: O mudang (xamã) é o mediador central nesses rituais. Sua capacidade de se comunicar com o mundo espiritual e realizar as oferendas e danças adequadas é o que torna o ritual eficaz, não uma "invocação" direta do Jeoseung Saja para fins específicos de "corte" fora do contexto de transição da alma.
O Jeoseung Saja é uma figura de autoridade e transição na cosmovisão coreana. Seu uso simbólico em rituais de "corte" ou "encerramento" no xamanismo coreano moderno estaria mais relacionado à sua função de levar embora o que não serve mais, finalizar ciclos e guiar para um novo estado de ser, sempre dentro do respeito e da compreensão da sua natureza como um mensageiro do submundo, e não como uma ferramenta manipulável para fins pessoais.  Geralmente para esse tipo de caso, os Mudang, usam bonecos ou amuletos.
Bonecos e Effigies no Xamanismo Coreano
A ideia de criar "bonecos mágicos" ou "effigies" com a função de "ceifa energética" no xamanismo coreano moderno ( Muism ) não é uma prática central ou amplamente documentada da mesma forma que se associa a bonecos de vodu em outras tradições, como o vodu haitiano ou o hoodoo .
No entanto, é possível que elementos simbólicos que se assemelham a isso possam ser encontrados em rituais específicos, sempre dentro do contexto da cosmovisão e propósitos do Muism.
* 1- Imagens e Representações de Divindades/Espíritos:
              No xamanismo coreano, mudang (xamãs) utilizam pinturas, banners ou estatuetas para representar as divindades e espíritos que eles invocam durante os gut (rituais xamânicos). Essas representações servem como pontos focais para a conexão espiritual e para a realização de oferendas. Não são "bonecos" no sentido de "effigies" para manipulação, mas sim ícones sagrados.
* 2- Uso de Palha ou Papel para Substituição Simbólica:
        Em alguns rituais de purificação ou exorcismo, é possível que se utilize um boneco simples feito de palha ou papel para transferir simbolicamente doenças, infortúnios ou espíritos malignos para ele. Após a transferência, esse boneco é então descartado ou queimado, levando consigo o problema. Esse processo é mais sobre liberação e descarte de energia negativa do que "ceifa" (colheita/corte) direcionada. O objetivo é remover uma influência indesejada do paciente.
         Por exemplo, em rituais de Byeolsin-gut (um tipo de ritual comunitário), pequenas effigies podem ser usadas para representar demônios ou espíritos doentios que estão sendo expulsos.
* 3 - Bonecos de "Substituição" para Doenças Graves:
      Em casos de doenças graves ou ameaças à vida, alguns rituais xamânicos podem envolver a criação de uma figura simbólica que representa a pessoa doente. A ideia é que, se o destino da pessoa for a morte, o espírito da morte ou o Jeoseung Saja "leve" o boneco em vez da pessoa real. Isso não é uma " ceifa energética " no sentido de prejudicar alguém, mas sim um ritual de substituição ou barganha com a morte, buscando adiar ou desviar o destino.
"Ceifa Energética" e o Jeoseung Saja
A ideia de " ceifa energética " remete mais a conceitos de roubo ou drenagem de energia de uma pessoa, muitas vezes associados a práticas escuras. No xamanismo coreano tradicional, o foco principal é a restauração do equilíbrio e da harmonia, a cura e a mediação com os espíritos para o bem-estar da comunidade ou do indivíduo.
 - O Jeoseung Saja é o ceifador por excelência, mas ele ceifa vidas (no sentido de levar almas ), não " energia " no s entido de manipulá-la para fins de ganho pessoal de energia de outra pessoa. Sua função é a transição final da alma, não a manipulação de sua vitalidade enquanto viva.
 - Enquanto se pode usar a simbologia do Jeoseung Saja em rituais de encerramento (como libertar um gwisin ou cortar uma influência negativa ), isso seria para que ele levasse embora o que já está "morto" (a influência indesejada, o ciclo de azar ) ou para guiar uma alma para seu devido lugar, não para "ceifar energia" de alguém em vida.
* Comparação com Outras Tradições
É importante não confundir as práticas coreanas com as de outras culturas, como:
* • Vodu Haitiano/Hoodoo: Onde bonecos são usados para representar pessoas e são manipulados (com alfinetes, etc.) para afetar o alvo, seja para cura, amor ou, em estereótipos populares, para maldições. Essa não é uma prática central ou análoga no Muism coreano.
* • Magia de Efígie em Outras Culturas: Muitas culturas têm formas de magia que usam representações de pessoas, mas os propósitos e os métodos variam enormemente.
Em resumo no xamanismo coreano (Muismo), a transitoriedade da vida e o poder da morte são vivenciados de forma direta e ritualística, em vez de serem contemplados por meio de práticas meditativas estruturadas como no budismo ou em algumas tradições ocidentais. A criação de bonecos ou efígies, por exemplo, pode ocorrer em rituais de purificação, exorcismo ou substituição simbólica, nos quais esses objetos representam o infortúnio, a doença ou a alma em transição — sendo posteriormente descartados ou conduzidos para longe como forma de restauração da harmonia. A figura do Jeoseung Saja , responsável por guiar as almas dos mortos, está profundamente ligada a essa dimensão liminar da existência, atuando como ponte entre mundos. Não há, no entanto, evidência substancial de que bonecos sejam utilizados para "ceifar energia" ou drenar vitalidade de indivíduos vivos dentro das práticas tradicionais ou modernas do Muismo. Em vez disso, os rituais concentram-se no apaziguamento dos espíritos, na manutenção do equilíbrio espiritual e na condução adequada das almas , destacando uma relação ativa, simbólica e respeitosa com a morte como um portal e força presente.


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