Tríplice liminaridade de Diana - Artemis/Hecate - Neófita: Chris.


 Mentores: Soror Akane/Tânia, Sacerdotisa Luna Marques e Sacerdote Max

Festival de Nemorália : Nemoralia (também chamado Festival of Torches ou Hecatean Ides) era um festival anual em honra de Diana Nemorensis, celebrado tradicionalmente  com o centro cultual no santuário, o bosque à beira do Lago Nemi (Aricia), nos Montes Albanos, perto de Roma, celebrado nos Ides de agosto (13–15 de agosto). O local era chamado Nemus (“bosque sagrado”) e o lago era conhecido como Speculum Dianae (o “espelho de Diana”)

Durante o Festival de Nemoralia , devotos de Diana realizavam uma procissão noturna ao redor do Lago Nemi , carregando tochas e lâmpadas que se refletiam na água, o que lhe conferiu o nome de " Festival das Tochas ". Os peregrinos usavam guirlandas de flores e faziam oferendas votivas, como figuras de barro, tábuas de cera e laços amarrados em cercas, muitos buscando cura e proteção. O festival era um período de paz para a natureza, com a caça suspensa, e até os cães de caça eram adornados com flores, sendo considerados sagrados por esses dias. Relatos também mencionam rituais de purificação, como banhos e lavagem de cabelo.

Tríplice/liminaridade de Diana: A ideia de uma Diana tríplice (Diana triformis) em Aricia combina de forma única aspectos da deusa da caça (Artemis), da deusa da lua (Selene) e da divindade liminar e ctônica (Hécate). Essa fusão de naturezas celeste, terrestre e subterrânea explica a importância das tochas em seu culto, que simbolizam a luz na escuridão e sua função como guia nas encruzilhadas, ou limiares. Essa tríade é corroborada por evidências arqueológicas, numismáticas e literárias, reforçando o papel de Diana como uma divindade que transcende os mundos e as transições.

A face celeste/lunar explica o vínculo de Diana com a noite , os ciclos lunares e ritos que usam luzes (tochas, lâmpadas). A lua como fonte simbólica de luz na escuridão e reguladora do tempo dos rituais. Em tradições romanas Diana frequentemente se confunde ou se sobrepõe com Luna/Selene, especialmente em cultos que enfatizam a dimensão noturna e os calendários festivos.

A face terrestre é a Diana/Artemis caçadora, protetora das matas, dos animais selvagens e dos caçadores. O santuário de Arícia fica num bosque (Nemus) sobre o lago é um espaço natural que é ao mesmo tempo sagrado e “fora da cidade”, o que reforça a ligação com o mundo selvagem e a peregrinação ao local.

A face subterrânea / liminar conecta Diana a Hécate/Trivia,  senhoras de encruzilhadas, passagens, margens entre mundos e aspectos infernais/curativos. Em Arícia, a Deusa tem funções de cura e de proteção em limites (nas margens do lago, nos bois/recintos do bosque), e textos e interpretações antigas e modernas leem ali um componente ctónico na prática cultual.

As tochas (e o efeito visual do fogo refletido no lago) funcionam como um símbolo por excelência dessa integração das 3 faces: como luz lunar (celeste) iluminando a noite; como sinal de cerimônia e caça (terrestre), tochas em procissões e festas de mato; e como instrumento em ritos liminares/rituais de passagem (subterrâneo/ Hécate) , já que a luz corta a escuridão dos limiares entre mundos. Relatos poéticos e testemunhos antigos descrevem procissões de tochas ao redor do “espelho” do lago Nemi, sublinhando essa imagem simbólica.

Liminalidade: por que “passagem/limiar” é central,  Diana em Aricia preside espaços de transição a margem entre terra e água (lago), entre bosque e estrada, entre dia e noite, vida e morte (curas, votos, episódios míticos como o de Hippolytus/Virbius). A associação com Hécate (deusa das encruzilhadas) reforça esse papel: o culto funciona socialmente como ocasião de peregrinação, cura e de ritos que marcam uma mudança de estado (doente → curado; profano → sagrado).

A fusão entre Ártemis e Hécate é um dos fenômenos mais fascinantes da mitologia grega, onde as características das duas deusas se misturavam e se complementavam ao longo do tempo. Embora sejam divindades distintas, elas compartilham várias associações que as levaram a ser vistas, em certas tradições, como diferentes aspectos de uma única divindade.


Pontos de Sincretismo

Deusas da Noite e da Lua: Ambas são fortemente associadas à noite e aos ciclos lunares. Ártemis é a deusa da lua cheia, enquanto Hécate é frequentemente ligada à lua nova ou à lua negra, a fase invisível. Juntas, elas podiam representar o ciclo lunar completo.

Guardiãs dos Caminhos: Hécate é a deusa das encruzilhadas (conhecida como Trivia em Roma), dos limiares e das passagens. Ártemis, como deusa da caça e protetora das florestas, também governa os caminhos e as rotas na natureza selvagem. Ambas são vistas como guias em territórios perigosos e desconhecidos.

Acompanhantes com Tochas: A imagem da deusa segurando tochas é um elemento iconográfico comum a ambas. As tochas de Ártemis iluminam o caminho para a caça na escuridão, enquanto as tochas de Hécate, sua "luz na escuridão", guiam as almas e as feiticeiras. Essa característica as une como portadoras de luz em ambientes noturnos.

Deusas Selvagens e Protetoras: Ártemis é a deusa das florestas e da vida selvagem. Hécate, por sua vez, está ligada aos aspectos mais rústicos e ctônicos (subterrâneos) da natureza, incluindo os cães (que são seus animais sagrados, assim como o de Ártemis). Ambas são protetoras da vida e do nascimento, mas também podem ser vingativas e perigosas quando enfurecidas.


Virgindade e Poder Feminino: Assim como Ártemis, Hécate é frequentemente associada à pureza e ao poder feminino independente, não subjugado por uma figura masculina.

A fusão das deusas Ártemis e Hécate, portanto, revela uma complexa e rica tapeçaria de crenças, onde o sincretismo não apenas unia duas divindades, mas também criava uma figura feminina mais poderosa e multifacetada. Ao combinarem suas associações com a lua, os caminhos, as tochas, a natureza selvagem e o poder feminino, elas formaram uma deusa tríplice que representava todos os aspectos da existência — celestial, terrestre e subterrânea — e se tornou um símbolo duradouro do poder feminino em suas diversas fases.

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