A Antiga Serpente - Correspondências esquecidas - O simbolismo de Enki e Lúcifer. Sacerdotisa: Nina Morun.

 

Introdução

A aula de hoje será uma breve apresentação de Enki, o deus sumério da criação,

e suas correspondências arquetípicas com Lúcifer.

Entender a origem dos símbolos cultuados é indispensável para trabalhar com clareza o nosso autoaperfeiçoamento, pois nos possibilita desmantelar a narrativa deturpada que recebemos ao longo da construção da história humana, que tem sido aprisionada durante séculos pelos nossos dois maiores inimigos: a ignorância e o medo.

Deste modo, Enki e Lúcifer cumprem o papel de figuras liminares, os que atravessam a fronteira entre a ordem dos deuses e a liberdade humana.


Enki, Senhor da Sabedoria

Enki (Ea na tradição babilônica), chamado pelos sumérios de "o deus amigo da humanidade", habita o Abzu, o reservatório subterrâneo de águas doces que alimenta rios, poços e a própria vida.

Muitos selos cilíndricos o revelam cercado de águas fluindo, peixes e serpentes. A serpente, como criatura que se associa ao submundo, à fertilidade e às águas primordiais, era vista como parente próxima das forças de Enki.

Na iconografia mesopotâmica, o dragão-serpente Mushussu, embora mais ligado a Marduk e Nabû, também expressa essa ligação ancestral entre divindades, poder criador e forças serpentinas. 


Enki era invocado em ritos de purificação, bênçãos, proteção e curas. É o arquiteto do humano: participa dos mitos de criação ao lado de Ninmah (a deusa cientista dos sumérios). Mais tarde, sua tradição se mistura à figura de Adapa, protótipo do “Adão” bíblico.

É considerado um deus civilizador e transgressor, uma vez que ensinou à humanidade as artes da escrita, do canto, do artesanato, da agricultura, das leis e dos rituais. Desobedeceu ordens de outros deuses, como descrito na Epopeia de Atrahasis, onde Enlil (seu irmão) impõe pragas e pestilências até decidir pelo extermínio da humanidade através de um dilúvio.

Enki, movido por compaixão e astúcia, sabota os decretos de Enlil, transmitindo segredos e instruções de sobrevivência aos humanos.


Lúcifer, o Portador da Luz


O nome Lúcifer e tudo o que ele representa é uma imensa costura cultural que evoca desde a divindade hebraica Shahar (amanhecer ou aurora), atravessando outras culturas e mitologias. Apesar do erro de tradução que permeia a tradição cristã — relacionando-o, no livro de Isaías, ao rei da Babilônia —, a imagem chegou ao Ocidente carregada de messianismo e deturpação.


Ainda assim, podemos identificar em muitas culturas sempre o mesmo arquétipo do deus ou herói que concede conhecimento à humanidade: Prometeu, Eósforo, a serpente do Éden, Quetzalcóatl (a serpente emplumada ligada à sabedoria e criação). Em releituras mais simbólicas e modernas, até figuras como Shiva (na dança da dissolução e renovação) e Osíris (no ciclo de morte e ressurreição) são vistos como ecos do mesmo arquétipo de luz que atravessa e renova.


Sob a perspectiva simbólica, a serpente representa a prudência, a astúcia, a flexibilidade, o conhecimento e a renovação — e nos convida a refletir o quanto é necessário trocar de pele para crescermos, sem perdermos nossa essência.

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