A Centelha Sagrada: Deus Interior e a Obra Alquímica. - Neófita: Nalu.
Na alquimia, o conceito de "Deus" é multifacetado, abrangendo desde um Criador supremo e atemporal que permeia a realidade até a ideia de uma Centelha Divina ou Poder Criador inerente à própria Natureza e ao ser humano. Alquimistas viam o universo como um grande laboratório onde o Divino se manifestava e buscavam transformação espiritual através da manipulação da matéria, guiados por princípios que refletiam essa força intrínseca.
Deus como Criador e o Universo Alquímico
Na alquimia, a ideia de “Deus” não é sempre apresentada de forma literal ou religiosa, mas sim como princípio supremo, força criadora e unidade universal. Dependendo da corrente alquímica (ocidental, hermética, cabalística, oriental), Deus pode ser visto de maneiras diferentes:
Princípio Uno – Representa a fonte de toda a matéria e espírito, a unidade de onde tudo se manifesta e para onde tudo retorna. É o “Todo” do Hermetismo.
Intelecto Divino ou Nous – A inteligência criadora, muitas vezes associada ao Logos ou à Mente Universal que organiza o caos.
Espírito Universal – Na alquimia prática, é simbolizado como o fogo secreto, o mercúrio filosófico ou a quintessência – a centelha divina presente em tudo.
Deus Interior – Muitos alquimistas viam a obra como um processo interno: a busca da “Pedra Filosofal” seria o encontro com o divino dentro de si mesmo.
*Correspondências religiosas – Alguns textos cristãos herméticos ligam Deus à Trindade ou ao Cristo interior; já correntes cabalísticas associam a Deus à Árvore da Vida e ao Ein Sof (o infinito).
Vejamos como dentro de contextos bíblicos a alquimia entende “O Todo”.
a putrefação – é o estágio em que se consegue a “Matéria Primordial”. … Gênesis 1:2 “A terra estava sem forma e vazia… e o Espírito de Deus se movia na superfície das águas”. Aqui exemplifica-se o enunciado dos alquimistas de que “a água é tudo” e de que a pedra é feita de fogo (ignis noster) e água (aquapermanens) agindo sobre a Matéria Primordial, em estado de putrefação. A Centelha de vida nova espera a sua libertação, conforme aconteceu na Crucificação e na Ressurreição e como exposto no Evangelho Segundo São João 12:24: “Na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só. Mas se morrer, dará muito fruto”.
a coagulação – consiste na união dos opostos, fogo e água. A pedra branca da Lua é transmutada na pedra vermelha do Sol: … “Na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito (fogo), não pode entrar no Reino de Deus.” *João 3:5.
Conforme disse São Paulo: “Sede transformados pela renovação de vossas Mentes”. Os alquimistas consideram a “Aqua Mercurialis” a alma de seu trabalho. Não há trabalho espiritual sem a purificação e a espiritualização da Mente.
Deus na Alquimia Hermética (Hermes Trismegisto e textos clássicos)
Nos textos herméticos, Deus é visto como o "Todo" ou "O Um", a origem e fim de todas as coisas. Hermes Trismegisto descreve Deus como uma mente universal,*que contém e sustenta o cosmos. Não é um Deus pessoal, mas um *princípio absoluto, infinito e indivisível, do qual emanam todos os planos da realidade: espiritual, mental e material.
* É o “Princípio” e a “Causa Primeira”.
* O universo é uma manifestação desse Todo.
* O trabalho alquímico é em essência e retornar à unidade com esse princípio divino.
Deus Interior (Alquimia Espiritual e Mística)
Para muitos alquimistas, especialmente na Idade Média e no Renascimento, a verdadeira obra não era apenas transformar metais, mas transformar a alma. Nesse sentido, “Deus” é visto como uma centelha divina dentro do ser humano, e a Pedra Filosofal é o símbolo do estado de iluminação ou união com o sagrado.
* O chumbo (ego, matéria bruta) é transmutado em ouro (espírito desperto).
* O laboratório alquímico também é o corpo e a mente do alquimista.
* A busca por Deus é um caminho de autoconhecimento e purificação.
Podemos então pensar na luz de Deus, a força cósmica, a força criadora como a verdadeira pedra filosofal, capaz de derreter o chumbo de nossas negatividades profundamente enraizadas, desde que estejamos dispostos a fazer “o trabalho”.
A “magnum opus” – a grande obra do alquimista – geralmente era executada em segredo na escuridão da noite. Da mesma forma, é na hora mais escura da alma que nos sentamos em silêncio e trabalhamos em nossa transformação interior.
Conclusão
O céu é a sede da luz, das potencias solares e da Divindade, é ali onde a construção se encontra e se fecha no formato de uma abóbada. O nó que ata este mundo é a pedra angular que concentra e difunde as forças para as colunas, da mesma forma que o céu difunde suas energias e une-se à terra.
O nosso corpo é templo por excelência, é um espaço de transmutação, uma vez que é capaz de transformar o “profano”, ou seja, algo negativo, nocivo em algo “sagrado”, entendendo nosso corpo como parte de uma constante evolução o que representa uma operação alquímica. A Alquimia era considerada como a ciência das transformações, que podiam ocorrer tanto na escala física como psíquica ou espiritual.


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