Os 9 filhos do Dragão - Bi'an. Por neófita Chloe Dameth.
O dragão Bi’an (狴犴) é um dos nove filhos do dragão na mitologia chinesa e se destaca como guardião da justiça e da ordem. Com aparência que combina traços de dragão e tigre, ele simboliza discernimento, força e proteção, sendo tradicionalmente associado a tribunais e prisões. Sua origem, cercada de mistério e possivelmente ligada a antigos totens tribais, reforça seu papel único: representar a imposição da lei e a harmonia cósmica no mundo humano.
Bi’an é um dos nove filhos do dragão na mitologia chinesa, herdeiro de um poder celestial que lhe confere sabedoria e autoridade . Sua aparência une dragão e tigre, simbolizando a fusão da força e da ferocidade com a inteligência e a nobreza, qualidades que o tornam guardião da justiça. Segundo a lenda, conquistou seu posto ao demonstrar discernimento ao resolver uma disputa com total equilíbrio. Na cosmologia chinesa , Bi’an também representa o princípio do Yin e do Yang, atuando como mediador entre o mundo material e o espiritual e garantindo a harmonia cósmica, refletindo a prosperidade e a força atribuídas aos dragões.
As funções espirituais do Dragão Bi'an são igualmente intrigantes. Ele é considerado um protetor contra influências malignas, frequentemente posicionado em telhados de edifícios para afastar o mal. Embora sua devoção seja principalmente pública e ligada à arquitetura, algumas práticas incluem oferendas de frutas, incenso e objetos que representem a justiça, como pequenas balanças, para honrar sua presença e buscar sua proteção.
Quando se fala de rituais , Bi’an é invocado em rituais que buscam restaurar a ordem e a justiça, com mantras e talismãs em forma de dragão ou tigre para trazer proteção e facilitar a conexão espiritual. Sua função vai além do sistema legal humano: ele reflete o equilíbrio cósmico da filosofia chinesa, atuando como guardião que impede o retorno ao caos, assim como Pan Ku separou Yin e Yang para criar a harmonia do universo.
Bi'an com os nove filhos do dragão formam um sistema mitológico que representa diversos aspectos da vida e da natureza, cada um com funções únicas. Bi’an , conhecido por seu discernimento, complementa os irmãos e é destacado na arquitetura chinesa como guardião da lei, simbolizando a presença da ordem cósmica na vida cotidiana e garantindo proteção ao sistema legal.
A ligação de Bi’an com o Tao reflete sua função de guardião do equilíbrio cósmico, onde ordem e desordem coexistem em harmonia. No taoísmo, ele simboliza a interconexão de todas as coisas e a necessidade de viver em sintonia com a natureza e com os outros. Sua justiça não busca eliminar o mal, mas contê-lo e mantê-lo em equilíbrio com a ordem, prevenindo o caos e assegurando o fluxo natural do Tao, em que forças opostas se complementam continuamente.
Significado espiritual e simbólico de Bi’an, ligado ao universo dos dragões chineses.
Dragão chinês (Lóng): símbolo de nobreza, sabedoria, proteção e boa sorte, associado a elementos naturais como água, chuva e clima, essenciais para a prosperidade.
Bi’an: guardião da lei, pode ser invocado como arquétipo de proteção contra injustiça, manipulação e opressão.
Talismã e espiritualidade: sua imagem é vista como símbolo de verdade e clareza, útil a juízes, advogados ou quem busca justiça.
Elementos: Fogo: coragem e purificação.
Terra: estabilidade e ordem.
Água e Vento: fluxo e transformação.
A função de Bi'an é primariamente institucional e pública. O seu "culto" não se manifesta por meio de rituais privados, mas através de sua representação arquitetônica e da sua presença simbólica em edifícios de autoridade. A veneração a Bi'an é um ato público, um reconhecimento da importância da lei e da ordem na sociedade. Com base nas qualidades e na função de Bi'an, um praticante moderno pode honrá-lo e conectar-se com sua energia de forma adaptada. A abordagem mais apropriada seria a que se concentra na essência de Bi'an: o discernimento, a justiça e a ordem. Em vez de oferendas materiais, que não são mencionadas nas fontes, as práticas poderiam ser orientadas para o desenvolvimento pessoal. Isso pode incluir a meditação sobre a justiça, a reflexão sobre a verdade e a mentira, e o fortalecimento da integridade pessoal. Rituais de honra a Bi'an poderiam envolver a purificação do ambiente de energias negativas e desonestas, o estabelecimento de intenções claras e a visualização de balanças ou símbolos de tigre para invocar sua sabedoria e força.
Uma meditação com Bi’an pode ser pensada como uma prática de purificação interior e busca de clareza espiritual, quase como colocar-se diante de um juiz sagrado, mas sem medo, apenas em busca da verdade mais profunda.
Aqui vai uma proposta de meditação ritualizada:
Meditação com o Dragão Bi’an
Objetivo: Discernimento, purificação, fortalecimento da justiça interior.
Preparação do espaço
Acenda um incenso de sândalo ou olíbano (perfumes associados à clareza e ao julgamento).
Se quiser, coloque diante de você um copo de água e uma vela branca, símbolos da verdade e da luz.
Postura e respiração
Sente-se confortavelmente.
Inspire profundamente pelo nariz, visualize o ar como uma névoa branca que limpa suas impurezas.
Expire pela boca, soltando preocupações e mentiras internas que você mesmo possa contar a si.
Visualização do Bi’an
Imagine-se diante de um portão antigo de pedra.
Ao abrir o portão, você vê o dragão Bi’an: Imenso, imponente, com olhar penetrante que parece atravessar sua alma.
Ele não é ameaçador, mas firme, como um juiz imparcial.
Diálogo com o dragão
Em silêncio, entregue ao Bi’an uma questão que te perturba ou uma dúvida moral/espiritual.
Visualize o dragão soprando uma chama dourada sobre você. Essa chama não queima, mas ilumina.
Permaneça nesse fogo simbólico, permitindo que a chama dissolva ilusões e apegos, revelando a essência da sua verdade.
Integração
Permaneça alguns minutos em silêncio, apenas respirando.
Ao final, agradeça a Bi’an. Imagine-o recuando lentamente, guardando o portão do discernimento.
Beba a água (se você tiver colocado) como um selo físico dessa clareza.
Essa prática pode ser usada quando você estiver diante de decisões difíceis, ou como um rito regular para fortalecer seu senso de justiça interior.
O dragão Bi’an é muito mais do que uma figura menor na mitologia chinesa; ele é um arquétipo fundamental da ordem e da justiça. Sua lenda, que une o dragão (símbolo de sabedoria e autoridade celestial) ao tigre, representante da força e da ferocidade terrena, estabelece a base para seu papel de guardião que não apenas julga, mas também impõe a lei. Essa adoração se manifesta de forma institucional e pública, com sua imagem presente em prisões e tribunais como um lembrete físico do poder da lei. Sendo Bi’an um ser que “diferencia o certo do errado” reflete o ato primordial da cosmologia chinesa, quando Pan Ku separou o Yin do Yang para criar o universo. Sua atuação no mundo humano é um reflexo desse princípio, assegurando que a sociedade não regrida ao caos. Assim, seu legado não é apenas mitológico, mas um lembrete cultural permanente da necessidade de integridade, discernimento e manutenção da ordem para a harmonia social. Bi’an permanece relevante como símbolo de proteção contra a injustiça e como encarnação do princípio de que o poder deve sempre servir à justiça.


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