Um ato mágico. - Por: Sacerdotisa Nina Mórun.

 

Hoje falaremos da escrita, esse código de comunicação que dividiu e mapeou a nossa história e nos ajuda a vencer o Tempo.


Nas cavernas de Lascaux e Altamira, símbolos e mãos pintadas já sugeriam um impulso ancestral: registrar o invisível. A linguagem petrificada em pigmento nas caçadas, não eram para decorar, mas para conjurar o êxito. Assim a tentativa de escrita começou como feitiço: um modo de dialogar com o mistério.


Milênios depois, nas terras férteis da Mesopotâmia, o gesto tornou-se sistema; tokens (pequenos objetos de barro) que traziam antigas formas representando itens e bens, como uma espécie de contabilidade.

Os sumérios criaram os tabletes de argila e a escrita cuneiforme que eram sinais em forma de cunha, gravados com estiletes, que registravam comércio, leis e mitos...

Eles chamavam seus escribas de dub-sar: literalmente, “o guardião das tábuas”.

O escriba não era um mero registrador; era um mediador entre o humano e o divino, o intérprete da ordem celeste no mundo.


Medu Netjer

No Egito, a escrita ganhou tom sagrado com os hieróglifos... Ali, escrever era um ato sacerdotal.

Os escribas serviam ao deus Thoth, o grande mensageiro, do conhecimento, sabedoria e da linguagem. Cada traço em seus papiros eram signos de poder. Acreditava-se que, ao registrar o nome de alguém, garantia-se sua permanência no além. A escrita, então, tornou-se uma forma de imortalidade. 

Medu Netjer significa literalmente palavras divinas que eram subdivididas em três categorias:

* Hieroglífica (a forma mais sagrada)

* Hierática (mais cursiva e geralmente usada por sacerdotes)

* Demótica (mais casual e popular, usada em textos científicos e literários)


Com os gregos, a escrita deu um salto filosófico e estético. Se no Egito escrever era um ato sagrado, entre os gregos passou a ser um ato de pensamento, a arte de organizar o mundo pela razão e pelo mito.

Durante os séculos seguintes, a escrita se transformou em instrumento do pensar.

Os gregos criaram o conceito de logos ( palavra, razão e princípio do universo).

Essa ideia uniu linguagem e criação, som e sentido. O mundo podia ser lido, compreendido e nomeado, e mesmo que antes já houvesse muitas manifestações semelhantes, por conseguir transmitir com mais precisão o seu jeito de pensar e sentir o mundo, a Grécia é considerada o berço da filosofia, a política, teatro...


Em resumo, a escrita é a consciência humana se olhando no espelho.

Da argila ao papel, do papiro ao pixel, escrever sempre foi um esforço para fazer com que sonhos, ideias, sentimentos, pensamentos, e saberes sobrevivam além de nós...

De forma ritualística, escrever nos ajuda a elaborar nossa narrativa interior, as histórias que contamos à nós mesmos sobre nós e o mundo, escrever nos ajuda a gravar o que precisa de foco, organizar os pensamentos, clarear objetivos, tirar da mente e colocar no papel desde desejos pessoais até planejamentos, metas e grandes projetos. 


Escrever é uma das formas mais antigas de magia. 

Enquanto os egípcios acreditavam que a palavra cria, os gregos acreditavam que ela revela.

Em um, o verbo é magia; 

no outro, é consciência.

E para você? O que escrever significa?

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