Shiva Nataraja "O senhor da dança" - Mestre: Ryujin.
É de longe uma das formas mais conhecidas e cultuadas. Shiva, na forma de Nataraja, é o senhor da dança cósmica. Pois "Nataraja" tem o sentido de dança e do movimento utilizado no universo. Sendo um termo e energia que nunca fica parada, pois mais sutil que seja, nunca está parado. Então, podemos dizer que é uma vibração constante, mesmo que possa agir de maneira sutil.
Mas por que será que Shiva está dançando nessa forma? Será que existe um porquê? Bem, claro que sim, mas isso já será explicado. Muitos dizem que Nataraja é mais do que apenas uma dança. Então, o que será que essa dança esconde? Possivelmente muitos mistérios em torno do Deus e da própria dança, que só podem ser entendidos após um estudo e quebra de cabeça. No entanto, hoje estou aqui para simplificar tudo isso.
Símbolos
Antes de explicar sobre a dança e como funciona esse processo, vamos primeiro entender os símbolos que essa forma/face carrega consigo. Entender o simbolismo pode ser a chave para compreender exatamente como funciona o processo da dança e entendermos o nome "Nataraja".
- Círculo de fogo: Também conhecido como roda de fogo, é o círculo da purificação e renovação, onde o Nataraja dança com a força de Agni. O círculo de fogo também pode ser representado como a roda do renascimento e morte, onde cada chama queima simbolizando a vida e a morte, a renovação e o começo. O círculo está em constante movimento, simbolizando o grande movimento eterno que ocorre nos ciclos da vida.
- Tambor: Conhecido como Damaru, é um tambor muito utilizado na Índia e no Tibete, possuindo forma de ampulheta. Constantemente é associado com Shiva, pois está ligado com a criação e a destruição. Dizem que o som do Damaru, em conjunto com a dança de Nataraja, é o responsável e quem causa a destruição e a criação no mundo. Acredita-se que Shiva usa um Damaru em suas danças, batendo tambor e utilizando as vibrações no processo de criação e destruição.
- Segurando Agni (elemento fogo): Nataraja é representado segurando o elemento Agni em sua mão esquerda superior. O fogo representa seu controle sobre Agni, pois, assim como as chamas podem criar vida trazendo calor, quando estão descontroladas elas podem crescer e queimar tudo que está em volta. Não deixando nada além de cinzas, essa é uma representação simbólica de como o poder deve ser utilizado de maneira correta, para que ele não se volte contra nós e principalmente destrua aquilo que gostamos ou amamos. O fogo, além de representar o equilíbrio, também está ligado diretamente com a vida e a evolução.
- Pisando em "anão": A princípio pode parecer estranho ou até mesmo não fazer muito sentido, mas esse anão é o que podemos chamar de "Ashura" ou "Demônio" do ego, assim como a Deusa também pisa no "Demônio". Nataraja segue o mesmo princípio, muito semelhante a kaal Bhairav. No entanto, quando Shiva pisa no anão, é uma representação simbólica do ego e da ilusão e de como eles podem nos afastar do caminho que seguimos, por isso ele é representado como um anão pequeno, pois é algo que está sob o controle dele, então, por isso, ele pisa nesse anão demonstrando que está acima do ego e da ilusão humana. Podendo ser um lembrete para que, assim como Shiva, que pisa no ego e na ilusão humana, também devemos manter o ego e a ilusão abaixo de nós, pisando sobre ele para ter total controle.
- Naga no pescoço: Representando o seu domínio sobre todas as nagas e serpentes, mas também sendo uma representação direta de toda energia e de como ela é destilada pelo mundo. Representando a dualidade e a união dos opostos, sendo a energia necessária para manter o equilíbrio no universo. Nagas também são vistas como protetoras da dança cósmica, sendo também um símbolo de guarda e poder quando Shiva assume a forma de Nataraja. Uma das representações que também pode ser atribuída é a energia da kundalini, adormecida na base da coluna e quando despertar subindo-se para cima, levando para o despertar evolução espiritual.
- Tandav: É o nome da dança cósmica realizada por Nataraja. Acredita-se que quando o senhor Shiva, na forma de Nataraja, realiza a dança do Tandav, o mundo passa pelo processo de criação, destruição e equilíbrio. Essa dança acompanha passos mais leves e sutis, sendo uma destruição mais ordenada, sutil e menos densa, onde Shiva assume uma forma mais benevolente e torna-se o dançarino cósmico do mundo, utilizando a dança na fonte de destruição e criação. No entanto, quando realizado na forma de Rudra Tandav, acredita-se que seja uma destruição massiva e muito mais destrutiva. Essa dança pode ser uma forma mais perigosa, densa e usada para destruir coisas em grande escala, geralmente atribuída somente quando necessário ou para uma grande manutenção no processo cósmico do universo.
- Tandav, Nataraja e Damaru: Quando Nataraja realiza o Tandav, Shiva dança de uma maneira leve e sutil, com passos semelhantes de um bailarino. A sua dança começa de uma maneira calma, suave e constante, tornando-se mais intenso gradualmente. Quando ele dança, acredita-se que ele bate o seu tambor, misturando as vibrações do Damaru junto com os seus passos sutis de dança. Dessa forma, enviando vibrações para o universo, sendo uma constante dança onde ele mantém o equilíbrio e o funcionamento das coisas. Cada passo tem uma batida diferente no Damaru, enviando vibrações para diferentes lugares do universo.
Origem Shiva e a dinastia dos Cholas:
Antes de tudo, acredita-se que Shiva era cultuado desde os antigos tempos védicos. Porém, ele teria outro nome e era cultuado na face de Rudra. Mesmo que não seja uma afirmação totalmente aceita por todas as pessoas, é um fato inegável, pois até mesmo grandes estudiosos e historiadores aceitam esse fato, sendo incontestável a semelhança que essas duas divindades tinham no panteão e principalmente em seu tempo de culto. Pois, assim como Shiva, Rudra também tinha um grande papel e potencial nos tempos védicos, sendo associado às tempestades, trovoadas e fertilidade.
Referente a Nataraja, não existe necessariamente um tempo correto onde começou-se o seu culto. Mas acredita-se que começou por volta do ano de 850 a.C. e a dinastia Chola foi uma das principais e mais importantes para o crescimento desse culto. Mesmo que outras dinastias também tenham sido responsáveis, os Cholas ganharam um grande destaque. No entanto, antes de falar sobre eles, precisamos entender que essa dinastia se classifica em três diferentes tempos.
Primeiros Cholas (c. 300 a.C. - 500 d.C.)
- Durante os primeiros Cholas, a dinastia começou a emergir como uma força política na região sul da Índia. Eles estabeleceram suas bases de poder e começaram a expandir seu território.
Cholas Medievais (c. 850 d.C. - 1279 d.C.)
- O período dos Cholas Medievais, particularmente nos séculos 9º ao 11º, foi marcado pelo apogeu da dinastia. Durante este tempo, os Cholas alcançaram um grande poder e influência, tanto politicamente quanto culturalmente. Foi uma era de prosperidade e desenvolvimento nas artes, literatura e arquitetura.
Cholas Tardios (c. 1070 d.C. - 1279 d.C.)
- Nos Cholas Tardios, a dinastia começou a enfrentar desafios e declínio, à medida que outras dinastias competiam pelo poder na região sul da Índia. Este período viu o enfraquecimento final dos Cholas como uma potência dominante.
Durante o período do 9º ao 11º século da Dinastia Chola, a figura de Nataraja, a forma dançante de Lord Shiva, tornou-se proeminente na arte e na cultura Chola. Embora a devoção a Shiva tenha existido desde tempos antigos, foi durante este período que as esculturas e estátuas de Nataraja começaram a ser erigidas em grande escala. A representação de Shiva como Nataraja, o dançarino cósmico, simboliza a interconexão entre a dança sagrada de Shiva e a criação, preservação e destruição do universo.
A devoção a Nataraja cresceu significativamente durante os séculos 9º ao 11º, pois as obras de arte Chola retratavam com maestria essa forma divina de Shiva. Essas esculturas e estátuas não apenas demonstravam a habilidade artística dos escultores Chola, mas também refletiam o profundo significado espiritual e filosófico por trás da figura de Nataraja. Assim, a presença e devoção a Nataraja se tornaram uma parte intrínseca da cultura e religião hindu da época, influenciando a arte e a espiritualidade na Índia.
Trabalhando na prática
Na prática, trabalhar com essa face pode ser simples ou difícil, depende apenas da pessoa. É um trabalho que envolve bastante o corpo, pois uma das maiores formas de conexão será através da dança. Podemos utilizar danças que representam o Tandav, com movimentos suaves que ficam mais intensos gradualmente, ou até mesmo uma dança própria, onde trabalhamos com a movimentação da cintura e a flexibilidade nas pernas. Como mencionado acima, você pode criar seu próprio estilo de dança, mas também é interessante pesquisar danças culturais e moldar ao seu estilo ou como achar melhor, pois as formas de conexões são únicas e variam de pessoa para pessoa.
Exemplo de prática: Geralmente, aqueles que trabalham com essa face, dançam e visualizam. Inicialmente, uma pequena dança é feita, movimentando os braços e ficando na posição de Nataraja. Após a dança e a posição de Nataraja, geralmente é feita uma meditação junto com uma visualização, onde o praticante se vê envolto no círculo ou roda de fogo, enquanto medita trazendo a força e potência de Shiva. Essa prática pode parecer simples, mas é muito eficaz e pode ser utilizada para diferentes fins, bastando ao praticante direcionar a energia correta e os elementos adequados para fazer uma prática de limpeza, proteção e até mesmo liberação.
Benefícios
Na minha opinião, trabalhar com Nataraja é algo mais voltado para a saúde física e controle emocional. Assim, trabalhar com essa forma de Shiva ajudará muito mais em uma esfera física e emocional do que na parte espiritual totalmente. Aqui você aprenderá formas de trabalhar a dança e o movimento do corpo, flexibilidade, alongamento, controle da respiração e postura. Isso não tira o fato de que ainda ajudará bastante em trabalhos e conexões espirituais, mas será algo mais voltado para você, trazendo energia para superar seus próprios obstáculos e limites.
Informações adicionais:
- Dia da semana: segunda-feira
- Lua: Crescente
- Cor: vermelho e azul
- Vela: Vermelha e azul
- Óleo: Sândalo, jasmim e lavanda
- Erva: Bhang e folhas de caju
- Oferta simbólica: Danças, movimentos, meditação e yoga
- Oferta: Frutas, especialmente bananas, leite, mel, copo ou taça com água e doces com coco
- Restrição: Geralmente não há, mas algumas pessoas dizem que não é legal consumir alimentos picantes
- Animal: Serpente e touro
- Desgostos: Mentiras, traições e injustiça
- Mantra: Jai Shiva Shankara Nataraja.
Nataraj, Nataraja, Jai Shiva Shankara Nataraja.
Shivaraj, Shivaraja, Shambho Shankara Shivaraja.
(Observação: há outros, mas gosto desse, então se não gostarem, há outros)
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário!